
As tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na semana passada a países de todo o mundo provocaram uma segunda-feira (7) de tensão para a economia global, com bolsas de valores caindo nos principais mercados, e o dólar em alta em relação ao real.
O governo estadunidense anunciou taxas para produtos vindos de 185 países. Para a maioria deles, inclusive o Brasil, a alíquota é de 10% e já está em vigor desde sábado (5). Alguns parceiros comerciais, como a China (34%) e a União Europeia (20%), receberam tarifas maiores, previstas para vigorar a partir de quarta (9).
Nas bolsas de valores, os tombos mais fortes nesta segunda foram registrados na Ásia. Em Hong Kong, houve a maior queda do índice Hang Seng desde a crise financeira asiática de 1997, com 13,22%. No Japão, houve acionamento de circuit breaker, uma medida que interrompe os pregões quando há desvalorização acentuada. Mesmo assim, o índice Nikkei 225 fechou o dia com redução de 7,83%.
Analistas veem risco de as medidas de Trump levarem a uma recessão global. Internamente, até mesmo apoiadores têm reagido negativamente às tarifas, com congressistas republicanos (do partido do presidente), como o senador texano Ted Cruz, alertando para risco de inflação e desemprego e discutindo formas de o Congresso intervir.
Notório simpatizante de Trump, o bilionário gestor de fundos Bill Ackman avaliou no fim de semana que os Estados Unidos estão "caminhando rumo a um inverno nuclear econômico autoinduzido", segundo a AFP.
Até mesmo Elon Musk, chefe do Departamento de Eficiência Governamental de Trump, publicou no X (rede social da qual é proprietário), vídeo em que o economista e estatístico Milton Friedman argumenta em favor do livre mercado e do comércio internacional. A publicação foi vista como um recado.
Estes movimentos, porém, não parecem pressionar o presidente a rever sua posição.
— Não estamos considerando isso. Muitos países vêm negociar acordos conosco, e serão justos — declarou Trump a jornalistas nesta segunda.
A China foi o primeiro país a confirmar uma retaliação ao "tarifaço". Já na sexta da semana passada, divulgou que pretende taxar, a partir de quinta-feira (10), produtos estadunidenses com os mesmos 34%. Em resposta, Trump ameaçou nesta segunda aplicar tarifa adicional de 50% às importações vindas da China, caso Pequim não revise a medida. O governo de Xi Jinping, porém, não deu sinal de que cederá.
— Deixamos claro em diversas ocasiões que pressionar ou ameaçar a China não é a maneira correta de negociar conosco. A China defenderá com firmeza seus direitos e interesses legítimos — declarou à AFP o porta-voz da embaixada chinesa nos Estados Unidos, Liu Pengyu.
No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou as reservas em dólares, que, segundo ele, "seguram este país contra qualquer crise".
— Mesmo o presidente Trump falando o que ele quer falar, o Brasil está seguro porque temos um colchão de US$ 350 bilhões — declarou Lula durante anúncio de investimentos do setor de logística em Cajamar (SP).
Ibovespa também cai
Principal indicador da B3, a bolsa de valores brasileira, o índice Ibovespa fechou a segunda-feira com queda de 1,31%. Ambiente de diversas negociações do mercado financeiro, as bolsas servem de termômetro de como uma política econômica ou acontecimento é recebido neste meio.
Diante da expectativa de movimento negativo na economia, os investidores tendem a colocar ativos à venda, aumentando a oferta e gerando desvalorização dos papeis.
No caso atual, segundo o professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFRGS Pedro Dutra Fonseca, o maior problema é a incerteza sobre o impacto do tarifaço de Trump sobre a economia mundial:
— Quando a bolsa sabe as consequências, ela mede o risco. Quando ela não sabe, tende a ser muito maior a desvalorização. Então, o que está acontecendo, no caso, é a incapacidade de medir, vamos dizer assim, a incerteza.
Nesta terça, a queda foi generalizada nas principais bolsas do mundo (veja abaixo). A norte-americana Nasdaq — que reúne mais de 3,7 mil empresas, inclusive de fora dos EUA, sendo grande parte delas do setor de tecnologia —, por outro lado, registrou alta, de 0,10%.
Resultados das principais bolsas do mundo
- Ibovespa (Brasil): -1,31%
- S&P 500 (EUA): -0,23%
- Dow Jones (EUA): -0,91%
- Nasdaq (EUA): +0,10
- Hong Kong: -13,22%
- Tóquio: -7,83%
- Frankfurt: -4,13%
- Paris: -4,78%
- Londres: -4,38%
- Madri: -5,12%
- Milão: -5,18%
- Buenos Aires: -3,88%
Alta no dólar
O dólar teve uma segunda-feira de alta e fechou o dia cotado a R$ 5,91, o maior valor desde 28 de fevereiro. A "guerra comercial" que pode ser iniciada pelas tarifas de Trump fortalece a moeda dos Estados Unidos, em especial na comparação com divisas de nações emergentes.
No mês de abril até aqui, o dólar acumula alta de 3,60% em relação ao real.
Ao Estadão, o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, avaliou que ativos de risco, incluindo as moedas emergentes, sofreram menos nesta segunda do que na sexta-feira, o que indica o mercado atento a eventuais exageros:
— O mercado ainda tenta entender efetivamente o que vai entrar em vigor nessa questão das tarifas. A China retaliou, e os EUA ameaçaram hoje aumentar ainda mais a tarifa, o que parece até um movimento desesperado, porque esperavam trazer os chineses para a mesa de negociação.