Candiota, município de 11 mil habitantes na região da Campanha, corre o risco de sofrer "desemprego em massa". A projeção é feita pelo prefeito da cidade, Luiz Carlos Folador (MDB), após um veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à medida que estendia contratos de venda da energia produzida na usina termelétrica de carvão mineral Candiota 3, que está sem funcionar desde o dia 31 de dezembro.
Entre as razões para o veto presidencial, o governo federal informa que o uso de energia de termelétricas encarece as tarifas aos consumidores e, também, é contrário aos compromissos internacionais assumidos pelo país, com políticas públicas voltadas à transição energética, mitigação de mudanças climáticas e descarbonização da matriz de energia brasileira. O carvão mineral é considerado o combustível fóssil mais poluente do planeta.
Segundo Folador, estariam em risco 5 mil postos de trabalho diretos e indiretos não só de Candiota, mas de municípios da região, como Pelotas e Pinheiro Machado, e até de Porto Alegre. A prefeitura está organizando um ato, nesta quarta-feira (15), em frente à usina. O município decretou a suspensão de serviços públicos não essenciais durante o dia.
— Nós temos uma usina moderna parada. Havia previsão de um investimento de R$ 100 milhões em uma fábrica de cimento. Está tudo parado. A população está preocupada. Já temos informações de demissões em empresas. Só esta usina representa 40% da receita municipal. Há uma grande preocupação com a saúde, a educação e a assistência social — relata Folador.
Uma comissão formada com o Sindicato dos Mineiros de Candiota está buscando uma reunião com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB). A reunião pode acontecer na sexta-feira (17), em Triunfo, durante uma visita de Alckmin à Brasken.
— Nós temos uma preocupação muito grande quanto à continuidade da usina Candiota 3. Buscamos alguma tratativa com o governo federal. É um momento que deixa uma intranquilidade aos trabalhadores — diz o sindicalista Hermelindo Ferreira.
A cidade tem duas usinas termelétricas de carvão mineral: a Pampa Sul e a Candiota 3. São usinas que vendem energia para o governo federal e para a iniciativa privada. A Usina Pampa Sul possui contratos por meio de leilão até 2043. Já a usina Candiota 3 concluiu todos os contratos públicos no fim do ano passado. Ela ainda pode fechar novos contratos privados, mas não há previsão para que isso aconteça.
Candiota tem 38% das reservas nacionais de carvão mineral do Brasil. Segundo o IBGE, a cidade tem um produto interno bruto (PIB) per capita de R$ 282.683,22, o terceiro maior entre os 497 municípios do RS.
Impacto na Companhia Riograndense de Mineração
A Companhia Riograndense de Mineração (CRM), que é uma estatal de economia mista ligada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), também pode ser impactada pelo fim das operações de Candiota 3. A usina é a única cliente da companhia, que mantém uma mina no município.
O governo do Estado afirmou em nota que as atividades da CRM, em Candiota, estão ocorrendo normalmente, com a preparação de uma nova área licenciada para mineração. O Estado afirma ainda que contratou uma empresa que irá desenhar uma transição energética justa, levando em consideração o caráter social, a riqueza mineral e o papel do carvão na matriz energética.