A taxa de juro básico do país chegou ao menor nível no intervalo de 16 meses nesta quarta-feira (20). Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual na reunião encerrada há pouco. Com isso, a taxa passa dos atuais 13,25% ao ano para 12,75%. A última vez que a Selic chegou nesse patamar foi em maio do ano passado, momento no qual o colegiado mantinha a curva de aperto monetário.
Esse é o segundo corte na Selic após uma inércia na taxa por cerca de um ano. Desaceleração na inflação e economia avançando em passo moderado criaram ambiente para essa inversão na curva no juro.
No texto que acompanha a decisão, o comitê cita o processo de desinflação observado no país como um dos motivos que justificam a redução. Para a próxima reunião, que ocorre entre o fim de outubro e início de novembro, o Copom projeta novo corte de 0,5 ponto percentual:
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, antevêem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.
O órgão também reforçou a importância de perseguir as metas fiscais e de perseverar uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também o atingimento das metas.
Sobre o resultado da reunião do Copom
O que a decisão sinaliza?
Na comparação com a decisão da reunião anterior, o encaminhamento atual mostra um alinhamento entre os integrantes do Copom pela sequência na trajetória de corte na Selic nos próximos meses, segundo especialistas. Isso reforça a tendência de uma economia com Selic menos agressiva em um futuro próximo, principalmente na segunda metade de 2024.
Qual a projeção para as próximas reuniões?
Especialistas projetam que o BC seguirá diminuindo a taxa em 0,5 ponto percentual nos próximos encontros até pelo menos a metade de 2024. Tendência é de encerrar 2023 com juro básico em 11,75% e 2024 em 9% ao ano.
O que preocupa a autoridade monetária?
O cenário fiscal do país: eventual descontrole dos gastos públicos e perda de credibilidade da gestão diante disso coloca um sinal de alerta no BC. Isso pode aumentar o consumo de maneira desordenada, impactando na inflação, além de afastar investidores externos.
O que cria ambiente mais confortável para a curva de queda do juro?
A projeção de inflação futura mais próxima do centro meta deixa a autoridade monetária mais tranquila nessa dinâmica de corte. A tendência de um crescimento econômico moderado que não gera um consumo desenfreado também deixa esse colchão de segurança mais sólido.
Outros pontos citados comunicado
O comitê reforçou a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas “para a ancoragem das expectativas de inflação” e condução da política monetária. Também cita que o país passa por um processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial. Isso “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, segundo os membros. O colegiado ressalta que o tamanho total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária no país. O Comitê também afirma que é necessário perseverar uma política monetária restritiva até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também fixar as expectativas em torno de suas metas.
Análise
O economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, Alex Agostini, afirma que um dos principais destaques da decisão do Copom ocorre no número de votos por essa redução. Diferentemente da última reunião, onde o placar foi apertado, a nova atualização passou pelo crivo do comitê:
— O que se destaca é esse consenso, um alinhamento do entendimento do colegiado. Isso é importantíssimo. Porque você tira de cena quaisquer preocupações futuras de desencontro. Todo mundo alinhou.
O diretor de economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storfer, afirma que o BC mantém o tom menos agressivo no corte para evitar uma desregulação entre o controle da inflação e o crescimento econômico. Uma redução mais robusta poderia criar ambiente de recrudescimento da alta de preços, segundo o especialista:
— Se por um lado o juro está alto, por outro, uma queda mais abrupta provocaria inflação. Então, acho que esse ritmo de algumas decisões por redução de 0,5 ponto percentual que devemos experimentar até o final do ano me parece adequado para o momento.
Fiergs diz que redução da Selic é acertada, mas pede comprometimento do governo com equilíbrio fiscal
“O Banco Central age de maneira assertiva ao trazer um sinal de alívio para as atividades produtivas, tão afetadas com os atuais níveis de juros e falta de confiança”, afirma, em nota, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Gilberto Porcello Petry, ao comentar a decisão do Copom desta quarta-feira (20).
Ainda segundo o comunicado da entidade, Petry ressalta que a elevação da intensidade dos cortes irá depender do comprometimento do Governo Federal com uma política fiscal equilibrada, que é um dos pilares responsáveis por acelerar o processo de redução das expectativas de inflação para os próximos anos. “Nesse sentido, o cumprimento das metas estabelecidas no novo Marco Fiscal é de suma importância para que tenhamos juros em patamares mais favoráveis ao crescimento do setor produtivo no Brasil”, ressalta o presidente da Fiergs.