Após as instabilidades causadas pela quebra do banco norte-americano Silicon Valley Bank (SVB), o mercado global de ações teve mais um dia agitado nesta quarta-feira (15). O principal causador da turbulência foi o banco suíço Credit Suisse, que viu o valor de suas ações despencar em níveis inéditos ao final do dia.
A desvalorização das ações do banco repercutiram em todo o mundo. As bolsas europeias, principalmente, também fecharam o dia em forte queda.
Entenda mais sobre a crise do Credit Suisse a seguir:
O que é o Credit Suisse?
O Credit Suisse é um banco da Suíça. A instituição foi fundada em 1856, e hoje é a segunda maior de seu país e uma das maiores da Europa. Entre suas principais atividades, o Credit Suisse desenvolve sua atuação principalmente nas áreas de banco de investimento, gestão de recursos e de patrimônio.
Quando começou esta crise do banco?
Esta crise mais recente do Credit Suisse teve início em 2021, com o colapso da Archegos Capital Management, uma renomada firma de investimentos internacional que realiza um alto volume de operações com o banco suíço. Segundo o Estado de S. Paulo, o Credit Suisse na época perdeu US$ 5,5 bilhões em investimentos.
Tentando buscar recuperação, o Credit Suisse anunciou a elaboração de um novo plano de estruturação. O plano incluía novas injeções de capital por parte dos acionistas, além da venda de ativos e cortes de funcionários.
Na terça-feira (14), o banco divulgou seu relatório anual, onde afirmou que encontrou "fraquezas significativas" na divulgação de seus resultados financeiros devido a problemas de controles internos.
Em 2022, o Credit Suisse registrou um prejuízo líquido de quase 7,3 bilhões de francos suíços (cerca de R$ 41,8 bilhões). Este foi o pior resultado de um banco suíço desde a crise financeira global de 2008.
Por que a crise se agravou nesta quarta-feira?
As ações do banco Credit Suisse operaram em queda livre nesta quarta-feira principalmente depois que o principal acionista, o Banco Nacional Saudita, anunciou que não vai apoiar a instituição com um aumento de participação no capital.
O Banco Nacional Saudita se tornou o maior acionista do Credit Suisse durante um aumento de capital anunciado em novembro, para financiar uma grande reestruturação da instituição. Questionado pela Bloomberg TV se o banco saudita poderia investir mais na instituição, o presidente, Amar Al Judairy, descartou a opção.
— A resposta é absolutamente não, por várias razões cada vez mais simples, que são regulatórias e estatutárias — declarou.
Os sauditas têm atualmente 9,8% do banco suíço.
— Se superarmos 10%, entram em vigor uma série de novas regras — explicou.
Ao final do dia, as ações do banco despencaram 29,94% na Bolsa de Zurique, registrando a pior queda de sua história.
Como foi o impacto no mercado europeu?
As bolsas europeias fecharam em forte queda nesta quarta-feira (15), reagindo às turbulências causadas pelo Credit Suisse justamente após o principal acionista do banco descartar a possibilidade de novos aportes na instituição.
Em Londres, no Reino Unido, o índice FTSE 100 caiu 3,83%, enquanto o índice DAX, em Frankfurt, na Alemanha, fechou em baixa de 3,27%. O CAC 40, em Paris, na França, cedeu 3,58%, e o FTSE MIB, em Milão, na Itália, fechou em baixa de 4,61%. Já em Madri, na Espanha, o índice Ibex 35 baixou 4,01%.
Na Bolsa de Lisboa, em Portugal, o PSI 20 caiu 2,77%. As cotações são preliminares. Em Frankfurt, o Deutsche Bank caiu quase 10%, enquanto o Barclays teve baixa quase 9%, em Londres.
Há repercussão da crise no Brasil?
No Brasil, o Credit Suisse desenvolve atuação majoritariamente fazendo a gestão de fortunas e a gestão de recursos. O banco suíço também atua com a gestão de bancos de investimento, prestando serviços como operações de crédito, emissão de ações e títulos, abertura de capital, fusões e aquisições de empresas (M&A), entre outros.
A bolsa brasileira fechou a quarta-feira com leve baixa de 0,25%, aos 102.675,45 pontos. Já o dólar encerrou a sessão de quarta-feira em alta de 0,70%, cotado a R$ 5,2943 - o maior valor de fechamento desde 5 de janeiro (R$ 5,3523).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse também nesta quarta-feira que está acompanhando com sua equipe a crise no banco suíço. A situação continuará sendo monitorada nos próximos dias. Questionado por jornalistas se ele havia entrado em contato com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para falar sobre o assunto, Haddad sinalizou positivamente.
Nos Estados Unidos, em comportamento semelhante ao da bolsa brasileira, índice Dow Jones caiu 0,87%, aos 31.875,17 pontos, o S&P 500 cedeu 0,69%, aos 3.892,18 pontos e Nasdaq fechou em alta de 0,05%, aos 11.434,05 pontos.
Este é o início de uma crise econômica global?
Segundo o Estadão, a britânica Capital Economics diz que o Credit Suisse é, em princípio, uma “preocupação muito maior” para a economia global do que os casos da quebra do SVB e do Signature na semana passada.
Segundo o economista chefe da consultoria para Europa, Andrew Kenningham, as preocupações em torno do Credit Suisse levantam a questão se este é o começo de uma crise global ou apenas mais um caso específico do setor bancário. O banco suíço foi amplamente visto como o “elo mais fraco” entre os pesos pesados do setor na Europa, mas não é o único que tem lutado contra a fraca lucratividade nos últimos anos. “Seria tolice presumir que não haverá outros problemas no futuro”, afirma Kenningham, citando as quebras de bancos nos EUA e a crise no mercado de bônus do Reino Unido (gilts).