
A economia do Rio Grande do Sul segue em processo de retomada neste início de ano. Dentro desse movimento, os setores de serviços e comércio emplacaram os melhores resultados no primeiro trimestre e seguem com desempenho positivo ante o mesmo período de 2021. Já a indústria não está na mesma toada e apresentou retração no acumulado dos três primeiros meses do ano.
Os dados são das pesquisas mensais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas na última semana. Espaço maior para recuperação no setor de serviços e acomodação na produção da indústria são alguns dos pontos que explicam esse cenário, segundo especialistas.
Principal motor da economia do país, o setor de serviços apresentou o maior avanço entre os três ramos na largada do ano, com crescimento de 16,1% no acumulado de janeiro a março (veja gráfico abaixo). Dentro do setor, o grupo de serviços prestados às famílias tem destaque, com salto de 38% no período. O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que essa retomada com mais destaque ocorre após uma demanda reprimida no ano passado, que sofreu com restrições diante da crise sanitária da covid-19.
— Toda essa parte de alojamento, alimentação, tem setores que sofreram muito e tem um peso significativo. Na medida em que a gente consegue normalizar o quadro sanitário, é possível dar condições, perspectivas para que esses segmentos venham a se destacar — explica Frank.
A economista Maria Carolina Gullo, professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS), afirma que o período de primavera e verão também ajudou o setor de serviços, junto da maior liberação das atividades.
— Toda parte de entretenimento, de lazer fica mais atrativa e aquecida durante as estações mais quentes, com as pessoas na rua. As pessoas saíram, mas procuraram casas, restaurantes que tivessem espaços ao ar livre para socializar com maior segurança — afirmou Maria Carolina.
O comércio varejista também apresentou crescimento no acumulado dos três primeiros meses do ano, com alta de 8,3%. O resultado é puxado pelos segmentos de livros, jornais, revistas e papelaria e de tecidos, vestuário e calçados. O economista-chefe da CDL afirma que, apesar de positivo, o resultado do comércio enfrenta dificuldades para expansão diante de problemas como inflação persistente, renda média baixa e juros altos.
A indústria vai na contramão dos outros dois principais ramos da economia. O setor amargou recuo de 2,3% na produção física no primeiro trimestre. Os segmentos coureiro-calçadista, de fabricação de móveis e da indústria de borracha e material plástico apresentaram os piores resultados no período.
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, afirma que a comparação com uma base muito alta do ano passado e o aumento dos custos de produção ajudam a explicar o desempenho do setor. Nunes destaca que problemas de demanda também começam a entrar nesse movimento:
— Existe um momento de pressão de custos que é muito grande no setor. Isso acaba, de certa forma, se juntando à demanda mais fraca e a gente tem um cenário que não é tão propício para crescimento da produção.
Serviços devem continuar avançando
O economista-chefe da CDL Porto Alegre estima que o cenário é mais favorável para avanço dos serviços nos próximos meses. Comércio e indústria deverão sofrer mais com os freios na economia do país. No entanto, Frank destaca que, mesmo com mais espaço para se recuperar, dificilmente o setor de serviços terá crescimento sustentado porque a inflação, juros altos e renda prejudicada seguirão afetando o orçamento das famílias:
Quando a gente tem uma economia que tem dificuldade para crescer, a retomada do mercado de trabalho também é menor
OSCAR FRANK
Economista-chefe da CDL Porto Alegre
— Tudo isso acaba afetando a confiança dos consumidores. Quando a gente tem uma economia que tem dificuldade para crescer, a retomada do mercado de trabalho também é menor.
Na indústria, o economista-chefe da Fiergs destaca que a tendência para os próximos meses é de acomodação. Nunes afirma que o setor deverá seguir com desaceleração na comparação com os bons resultados de 2021.
— Isso ocorre justamente porque o cenário de demanda interna acaba desacelerando. Agora, a gente também começa a ver uma desaceleração da demanda externa — projeta o economista.
Serviços prestados às famílias
A alta acumulada do setor de serviços no Estado no primeiro trimestre é maior em relação à média nacional, que ficou em 9,4%. Ao justificar o desempenho dos serviços prestados às famílias, o IBGE explica que esse aumento é o movimento das empresas de hotéis, restaurantes e bufês.
A presidente da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) no Rio Grande do Sul, Maria Fernanda Tartoni, afirma que o setor de alimentação fora de casa passa por esse momento de recuperação:
O fim da restrição de funcionamento e a desobrigatoriedade do uso de máscara fizeram com que o consumidor tivesse mais confiança em sair de casa, e ele está realmente frequentando bares e restaurantes
MARIA FERNANDA TARTONI
Presidente da Abrasel no RS
— O fim da restrição de funcionamento e a desobrigatoriedade do uso de máscara fizeram com que o consumidor tivesse mais confiança em sair de casa, e ele está realmente frequentando bares e restaurantes.
Maria Fernanda destaca que, como os efeitos da crise sanitária no setor foram pesados, parte dos empresários ainda enfrentam problemas com endividamento. Mesmo assim, ela salienta que o cenário de volta do movimento de frequentadores e o resultado disso nos caixas dos estabelecimentos são visíveis.
O restaurante Di Toni Pasta i Basta, em Porto Alegre, é um dos exemplos dessa retomada no ramo de alimentação. O estabelecimento ficava no centro da Capital, mas acabou mudando de local e focando no modelo de entregas durante a pandemia, diante da falta de circulação de pessoas. No ano passado, com a reabertura das atividades, o negócio se mudou para o bairro Bom Fim. Desde então, a empresa voltou a registrar bons números, segundo o proprietário, Marcus Costa:
— A gente começou a retomar de verdade, com números de pré-pandemia, agora no final de fevereiro e início de março. Abril também foi um mês muito bom, então, é visível essa recuperação.
Costa destaca que o restaurante está com bom movimento tanto no atendimento físico quanto no sistema de telentrega.