
Depois de avançar 0,4% no segundo trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá seguir no azul até o fim do ano, apesar da existência de riscos no horizonte, apontam analistas. A projeção mais recente de representantes do mercado financeiro é de que a economia subirá 0,8% em 2019. A estimativa, que integra o relatório Focus, do Banco Central (BC), foi divulgada na segunda-feira (26). Ou seja, antes da apresentação, nesta quinta (29), do PIB referente ao período de abril a junho.
— O avanço de 0,4% no segundo trimestre é uma boa notícia. Vai forçar a revisão nas expectativas de crescimento do PIB neste ano. Apesar disso, o cenário tem desafios. O aumento no consumo das famílias é fundamental para a economia. O governo tem de usar os bancos públicos para gerar crédito mais barato, e até vem fazendo isso — pontua o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito.
Para a pesquisadora Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o eventual avanço no pacote de reformas e de privatizações poderá elevar o fôlego do PIB até dezembro. Mesmo assim, salienta que a recuperação deverá seguir em ritmo lento.
— O caminho para o crescimento vem do equilíbrio fiscal e do avanço da agenda de desburocratização no país. A liberação de saques do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) também poderá ter impacto positivo no consumo — diz Luana.
Entre os riscos que seguirão no radar, está a turbulência externa. A piora no cenário internacional decorre da guerra comercial entre Estados Unidos e China e da penúria econômica vivida pela Argentina. Terceiro principal destino das exportações brasileiras, o país vizinho amarga disparada do dólar e da inflação. Na quarta-feira (28), pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) extensão de prazo para pagar dívida de US$ 56 bilhões.
Apesar de o avanço de 0,4% do PIB ter surpreendido parte dos analistas, o Brasil caminha para mais uma década perdida. Essa expressão é usada por especialistas para descrever períodos de baixo crescimento econômico. A última década perdida no país foi registrada entre 1981 e 1990, quando a elevação média do PIB atingiu 1,6%, conforme pesquisa do FGV Ibre. O estudo indica que a alta entre 2011 e 2020 deverá ser a menor da série histórica de 120 anos.