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Sócio-diretor de criação da Morya, Fábio Bernardi projeta que, após a recessão econômica, o mercado de propaganda encontrará cenário mais promissor em 2018 e 2019. Nesta entrevista, o publicitário, que venceu a categoria Empresário ou Dirigente de Comunicação do Ano no Salão da Propaganda, também avalia aspectos como mudanças no comportamento de consumidores e relação entre tecnologia e valorização de ideias.
Além de Bernardi, outros 14 nomes foram premiados. A revelação dos vencedores do Salão da Propaganda ocorreu em Porto Alegre, na noite de quinta-feira (7).
Como você define o atual momento do mercado de propaganda?
O mercado vive profundas transformações em todos os aspectos: técnicos, financeiros, de ferramentas. Necessariamente, terá de se reinventar. Será completamente diferente daqui a dois ou três anos.
Por quê?
O comportamento das pessoas também mudou. Além de consumidoras, são produtoras de conteúdo nas redes sociais. Têm interesse por assuntos que antes não estavam no radar, como questões de gênero e assuntos por trás das marcas. Há ainda a questão relacionada às novas gerações. Por isso, precisamos de empresas com mais liberdade e com o casamento entre o que desejam ser no mundo e o que os seus profissionais desejam fazer no mundo. Nosso negócio na propaganda é reter talentos.
O que as agências precisam fazer para reter os talentos?
A primeira ação é alinhar a proposta das empresas com as pessoas. A segunda, dar mais liberdade e autonomia aos talentos, para que consigam desenvolver cada vez mais as suas ideias. A ética também será cada vez mais importante. Não serão necessários programas estruturados de compliance, mas será preciso deixar claro que as pessoas precisarão fazer só o certo. A propaganda deixará apenas de ser um negócio que olhará apenas para as agências. Cada vez mais, as agências serão empresas com ideias de várias áreas da comunicação.
A Semana ARP discutiu a relação entre tecnologia e valorização de pessoas. Como você analisa essa questão?
As máquinas farão melhor e com menos custos a coleta de grandes conteúdos de dados. Mas nunca conseguirão lidar melhor com a emoção humana. E isso é o que a propaganda faz. Teremos de alimentar a chama da criatividade. Lidar com a emoção humana será um ativo cada vez mais importante para a propaganda. E o mundo valorizará isso.
Com o fim da recessão, a tendência é de que o mercado fique melhor a partir de 2018?
A comunicação vive um paradoxo. Quando há uma grande crise econômica, a situação fica ruim porque o consumo cai e tira a coragem de empresários. Momentos de muito crescimento também não são tão bons assim, porque pouco estimulam a criatividade. O bom para a comunicação é quando há uma mistura entre prosperidade e crise. Ao mesmo tempo em que esses momentos estimulam a coragem e a ousadia, dão o conforto de que os movimentos valerão a pena porque a economia responderá. Por isso, 2018 pode ser um bom ano. As marcas terão maior retorno do que em 2017. Se a política não atrapalhar, construiremos um bom 2018 e um ótimo 2019.