A informação de que o governo quer privatizar a Eletrobras, uma das maiores empresas de energia elétrica da América Latina, foi recebida por especialistas do setor como uma boa saída para a estatal, que vem enfrentando graves problemas financeiros e acumula dívidas de R$ 43,5 bilhões.
Para o professor da UFRJ, Nivalde de Castro, a decisão de dar um novo rumo à Eletrobras já vinha sendo colocada em prática pelo atual presidente da estatal, Wilson Ferreira Jr, com a venda da participação da empresa em vários projetos e das distribuidoras. Mas seria um processo mais longo.
Segundo fontes, a modelagem para vender a participação da Eletrobras em projetos de energia eólica e transmissão estava sendo feita pelo banco BTG Pactual e deveria ser concluída no fim deste mês. Agora, este processo deve ser interrompido.
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Na avaliação de Castro, o país hoje não tem mais a necessidade de ter uma estatal como a Eletrobras para ser instrumento de política energética.
– Isso porque o modelo do setor está bem consolidado e a expansão pode ser feita apenas com a iniciativa privada.
O consultor Ricardo Lima, especialista no setor, elogiou a decisão do governo. Na avaliação dele, a redução do peso do Estado, acompanhada de uma melhoria da governança corporativa e da redução do peso político na empresa são ótimas notícias. Mesmo no momento atual, de instabilidade política e crise econômica, a venda pulverizada da empresa pode atrair investidores de peso, como fundos de investimentos internacionais, diz Lima.
– Menos Estado é positivo e necessário.
Na avaliação dos especialistas, tirar o controle da empresa das mãos do governo fará muito bem para os negócios da estatal. Quem ficar no controle poderá vender os ativos sem o excesso de burocracia como ocorre hoje.
– A decisão de hoje (segunda-feira) demonstra emergência por parte do governo, que precisa fazer caixa para reduzir o déficit fiscal – disse o professor Nivalde de Castro, destacando a qualidade dos ativos da empresa.
Reunião
Na segunda-feira (21) à tarde, antes do anúncio, a Eletrobras realizou uma reunião com investidores e analistas de mercado em São Paulo, mas os representantes da estatal não fizeram qualquer menção ao comunicado, que pouco depois seria arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a respeito da desestatização.
O principal executivo presente era o diretor Financeiro e de Relações com Investidores da estatal, Armando Casado, que deixou o evento às pressas. Um dos funcionários de sua equipe insistiu para a necessidade de irem embora e pediu desculpas aos jornalistas, que tinham iniciado uma entrevista com o executivo. O funcionário acrescentou, na sequência:
– Depois vocês vão entender.