Professor da UFRGS, o economista Fernando Ferrari Filho avalia que não há outra alternativa ao projeto de privatizações anunciado nesta quarta-feira (23) pelo governo federal, mas pondera que, se outras medidas de ajuste fiscal não forem colocadas em prática, como a reforma tributária, "qualquer recurso que entrar por um lado sairá pelo outro".
Qual sua avaliação sobre o anúncio do projeto de privatizações do governo?
Penso que não há outra alternativa. Com a privatização em setores nos quais o Estado não consegue mais injetar recursos para ter competitividade, a situação das empresas é amenizada. O aspecto negativo é que, sem uma racionalização fiscal, qualquer recurso que entrar por um lado sairá pelo outro.
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Além das privatizações, quais seriam as medidas necessárias para o equilíbrio das contas do governo?
Reformas como a tributária e a previdenciária. A tributária é até mais importante do que a previdenciária, que deveria ser amplamente discutida entre a sociedade. Se o governo não tiver condições de investir em setores que perderam competitividade, é melhor que se faça concessões e privatizações, mas qualquer ajuste só será efetivado se a economia voltar a crescer.
Como avalia a inclusão da Casa da Moeda, que teve lucro em 2015 e 2016, no projeto de privatizações?
É possível uma empresa pública como a CEEE, no Rio Grande do Sul, ter lucro. A questão é: o lucro é adequado para tornar a empresa competitiva? É preciso entender se a companhia está dando o retorno esperado para a sociedade. O fato de a Casa da Moeda ser lucrativa não é a questão. A privatização não é algo ideológico. É preciso ver se a empresa ainda consegue ser importante para o seu setor. Se o lucro for adequado para torná-la competitiva, a ideia de privatização até pode ser esquecida.
Quais empreendimentos contemplados pelo projeto apresentado pelo governo que podem atrair maior interesse da iniciativa privada?
Diria que são os aeroportos. Independentemente de terem sido divididos em grupos, esses empreendimentos fazem parte de um segmento altamente lucrativo. Seja com investimentos internos ou externos, esse setor vem crescendo nos últimos anos.