Apreensivas diante da repercussão das denúncias de irregularidades em 21 frigoríficos no país, entidades que representam o setor de carnes no Rio Grande do Sul ainda contabilizam o tamanho do estrago para as exportações gaúchas. Até esta terça-feira, o clima é de inquietação frente à possibilidade de mais embargo de alguns dos principais importadores de proteína animal do Brasil.
Embora nenhum dos casos investigados pela Polícia Federal tenha ocorrido no Estado, os representantes do setor acreditam que será preciso reconstruir a imagem perante parceiros externos para recuperar a confiança.
– Ainda vamos perder muito com tudo isso. Tínhamos um negócio que era um dos poucos que estava indo bem com a crise. Agora está ameaçado. O estrago está para ser medido – diz Nestor Freiberger, presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav).
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Diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips), Rogério Kerber avalia que o Estado pode acabar pagando "um preço alto", mesmo sem ter qualquer relação com as fraudes investigadas:
– Foram casos pontuais e reprováveis, mas que não comprometem o sistema de certificação e a qualidade da produção. Nosso desafio é destacar isso para tentar minimizar os prejuízos.
Em 2016, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE), o Rio Grande do Sul exportou 1 milhão de toneladas de carne para destinos como União Europeia, Arábia Saudita, Rússia e China. A operação rendeu cerca de US$ 2 bilhões, o equivalente a 13% do faturamento das exportações brasileiras do produto no período.
– O que mais preocupa é que esse tipo de negócio representa o elo final da cadeia do agronegócio. Se for afetado, teremos problemas. Só o setor de abates, por exemplo, tem 56 mil trabalhadores formais no Estado, que podem ser prejudicados – avalia o economista do Núcleo de Estudos do Agronegócio da FEE, Sérgio Leusin Júnior.
Apesar do temor de queda nas exportações, o secretário estadual da Agricultura, Ernani Polo, destaca que o momento é de "tranquilizar os consumidores", tanto internos quanto externos:
– Certamente haverá reflexos negativos, mas temos de ter o cuidado de não generalizar, de deixar claras as medidas que estão sendo tomadas e de manter o controle rigoroso sobre a produção.
Diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle também aposta na reversão da crise.
– O estrago já foi feito. Mesmo assim, esperamos que se torne apenas uma nuvem negra a se dissipar no céu. Aos poucos, as coisas vão se ajustar – projeta.