Discutida em público somente agora, a situação de decadência e acúmulo de dívidas do Badesul é de conhecimento da cúpula do governo de José Ivo Sartori desde junho do ano passado. A atual gestão do banco tomou posse no final de abril de 2015 e, a partir dali, produziu relatórios de circulação reservada sobre a inadimplência em diversos contratos, a realidade de recuperação judicial de uma série de devedores e o crescente prejuízo amargado pela agência de fomento.
Houve divisão no núcleo do Palácio Piratini sobre o que fazer: manter o assunto restrito aos escaninhos do poder ou chamar a imprensa e expor os números encontrados – estratégia que era defendida pela área de Comunicação, que pretendia apresentar o cenário como "herança maldita". Diante das opiniões distintas, prevaleceu a argumentação de Susana Kakuta, atual diretora-presidente do Badesul.
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Em reuniões, afirmou que revelar publicamente o caos do Badesul afetaria a imagem do banco no mercado financeiro e dificultaria a tentativa de recuperação. Entre as consequências, eram citados os possíveis rebaixamentos de classificação, o que acabou acontecendo dias atrás, quando o BNDES atribuiu nota zero e praticamente inviabilizou o Badesul. Outra justificativa utilizada com frequência era de que algumas empresas, ao terem notícia dos calotes aplicados por outros tomadores de empréstimo, poderiam se sentir encorajadas a fazer mesmo.
– O controlador (governo estadual) conhece a situação desde que entramos no Badesul. O que não fizemos foi trazer isso a público, até em função da questão da confiança. A instituição financeira atua com base na credibilidade da sua marca e essas coisas todas afetam – sustentou Susana, ontem, após a reunião de organização da sindicância que irá apurar casos de má gestão no banco entre 2011 e 2014.
Prevaleceu a tese da manutenção do tema entre quatro paredes. Sobre os questionamentos por ter aberto a sindicância somente agora, após a revelação pública dos calotes, Susana diz que a sua gestão permitiu acesso do Tribunal de Contas do Estado (TCE) aos contratos, o que havia sido negado na gestão anterior. Além da Corte, o Banco Central também investiga se os financiamentos à Wind Power Energia e à Iesa Óleo e Gás desrespeitaram normas do sistema financeiro.