
Registrando elevação em todas as regiões do país, a taxa de desemprego voltou a avançar no Rio Grande do Sul no 2º trimestre do ano e chegou a 8,7%. No mesmo período de 2015, a desocupação era 5,9%. É o maior indicador de desemprego entre os três Estados da região Sul. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira.
O Rio Grande do Sul atingiu 530 mil desempregados entre abril e junho de 2016. São 75 mil pessoas a mais sem emprego na comparação com o 1º trimestre do ano. Se forem levados em conta os números do mesmo período de 2015, o aumento foi de 180 mil desempregados – ou seja, um crescimento de 51%.
Mesmo com a elevação do indicador no período, o Rio Grande do Sul aparece na pesquisa com uma das menores taxas de desocupação do país, com o sexto menor nível de desemprego. Apenas Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e Paraná possuem números mais favoráveis, respectivamente.
O professor de Economia do Trabalho na UFRGS, Giácomo Balbinotto Neto, avalia que, apesar dessa comparação em relação a outras regiões do país, os dados de desemprego do Estado são preocupantes.
– É uma taxa bastante elevada se comparada aos dados de 2013 e 2014. Essa tendência (do aumento da taxa de desemprego) se iniciou no quarto trimestre de 2014 e ainda deve continuar por pelo menos um semestre.
O atual momento de indefinição da política econômica brasileira – relacionado ao possível afastamento de Dilma Rousseff e ao governo provisório de Michel Temer – explica o salto no desemprego, conforme Balbinotto. Aliado a isso, está a inclusão, no mercado de trabalho, de pessoas que até então não tinham uma atividade e obrigaram-se a buscar emprego por vários motivos, como a demissão de um familiar que era o provedor da casa.
– Podemos esperar, a partir de outubro ou novembro, um estancamento do desemprego ou um aumento em menor velocidade. Isso porque o período de final de ano é o de recuperação econômica. Mas o aumento deve persistir, pelo menos no curto prazo. Acredito que até o segundo trimestre de 2017 – diz o economista.
Pesquisador da Fundação de Economia e Estatística e da PUCRS, Alfredo Meneghetti Neto, lembra que a situação estadual também ajuda a explicar a alta nos indicadores. Ele acredita que o desemprego no Estado está relacionado a quatro fragilidades da economia gaúcha – alto volume de importações, influência do clima sobre a produção agrícola, dificuldades nas relações com o governo federal e a situação deteriorada das finanças estaduais.
– O desemprego é a variável que mais sinaliza essas quatro fragilidades – afirma.
Menos empregos com e sem carteira de trabalho
No Estado, houve uma diminuição de 54 mil empregados com carteira assinada na inciativa privada durante o 2º trimestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano passado. O recuo também ocorreu entre os empregados sem carteira assinada do setor privado, com o corte de 64 mil empregos.
Contrariando a tendência nos três meses, o setor público teve um aumento de 24 mil empregados. O número leva em consideração servidores estatutários e militares.
Outro grupo com crescimento foi o de autônomos. Conforme o IBGE, existem 1,3 milhão de pessoas trabalhando por conta própria no Rio Grande do Sul, 65 mil a mais que no ano passado.
Comércio e indústria lideram demissões
O comércio foi responsável pelo maior fechamento de vagas de emprego no 2º trimestre deste ano. Na comparação com o mesmo período de 2015, são 65 mil pessoas a menos trabalhando no setor que também inclui reparação de veículos automotores e motocicletas.
Na sequência, a indústria registra redução de 55 mil empregados. O setor de informática, comunicação e atividades financeiras também registrou cortes, com 39 mil desempregados a mais que no mesmo intervalo de 2015.
Na contramão, o setor de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais teve um acréscimo de 63 mil empregados. Construção (37 mil) e agricultura e pecuária (21 mil) também registraram uma variação positiva.
Sobre os dados referentes ao leve crescimento na construção civil, Balbinotto diz que, devido a diferentes fatores, cada setor pode ter uma variação distinta.
– O setor da construção, por exemplo, depende do número de obras, que depende da taxa de juros, que ainda está bastante alta. Até mesmo para se fazer pequenas reformas em casa você avalia se está trabalhando, se a obra não pode esperar. É um setor ainda que pode reagir, mas mesmo assim só vai voltar a crescer com a retomada da economia.
– Primeiro, a economia tem que dar uma retomada para reverter a tendência de queda do desemprego. Se esses bons sinais que estão parecendo forem consolidados com políticas adequadas, já em 2017 vamos ter crescimento do PIB nacional e estadual – avalia o professor Alfredo Meneghetti Neto, que prevê a reversão dos números de desemprego apenas em 2017.
Renda do empregado diminui no setor privado
Considerando todos os empregados, o rendimento médio do trabalhador gaúcho passou para R$ 2.209. O número representa um decréscimo de 0,9% em relação ao 2º trimestre de 2015.
Mesmo tendo caído 12%, a renda dos empregadores lidera de forma disparada, com média salarial R$ 4.447. Em seguida, vêm os empregados do setor público, com R$ 3.556.
No setor privado, a renda média do empregado com carteira assinada é R$ 1.828, redução de 3,2%. Sem carteira assinada, o rendimento mensal é R$ 1.432, aumento de 10,6%.
Segundo o IBGE, o salário mais baixo entre a população ocupada, de R$ 896, é recebido pelos trabalhadores domésticos. Autônomos têm rendimento médio de R$ 1.926.
No Rio Grande do Sul, o salário real se manteve relativamente constante, segundo Giácomo Balbinotto. A variação negativa de 0,9% no rendimento médio do trabalhador gaúcho, segundo ele, pode ser explicado pela desaceleração no IPCA, que no semestre passado estava em 3,4% e caiu para 2,6% nesse trimestre.
– Isso reduz o salário real, o poder aquisitivo – explica.
Segundo Balbinotto, o aumento no número de horas extras indica uma leve melhora na economia. Isso porque, ainda sem certezas de estabilidade, as empresas preferem aumentar a jornada de colaboradores já contratados do que contratar novos trabalhadores. No sentido contrário, a queda no número de horas extras e até as férias coletivas e diminuição na jornada são sinais da recessão.
Desemprego avança em todo o país
Em relação ao primeiro trimestre de 2016, as regiões Norte e Sul apresentaram aumento significativo do desemprego, enquanto as demais ficaram estáveis. Já na comparação com o 2º trimestre de 2015, todas as grandes regiões registraram crescimento da taxa de desocupação, com destaque para o Sudeste, onde o aumento foi de 3,4 pontos percentuais.
Segundo o IBGE, a região Nordeste segue apresentando as maiores taxas de desemprego, tendo registrado, no 2º trimestre de 2016, uma taxa de 13,2%. A região Sul teve a menor, de 8,0%.