A expectativa de que o Brasil vai voltar a fechar um ano com inflação de dois dígitos, algo que não ocorria desde 2002, parece cada vez mais perto de ser confirmada. Divulgado na manhã desta quinta-feira, o IPCA-15 mostrou que, em 12 meses, os preços subiram 10,28% no país. Com forte contribuição dos combustíveis, em novembro o índice acelerou para 0,85%, ante 0,66% em outubro.
Prévia do IPCA, considerada a inflação oficial, o IPCA-15 analisa as variações entre a segunda quinzena do mês anterior e a primeira do atual. O dado, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ratifica a previsão de analistas financeiros. No boletim Focus divulgado segunda-feira, o mercado indicou pela primeira vez no ano esperar um IPCA acima de 10% em 2015 (10,04%). Na última vez que a barreira foi ultrapassada, 13 anos atrás, a inflação encerrou com alta de 12,53%.
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Em dezembro de 2002 o IPCA-15 também atingiu um taxa acima de dois dígitos (11,99%) no acumulado de 12 meses, patamar que se manteve até novembro de 2003 (12,69%).
Para o professor de economia Marcelo Portugal, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), a disparada do índice tem cinco principais vetores: alta do dólar, reajuste de preços administrados represados nos últimos anos, queda da oferta de alimentos devido ao clima, excesso de gastos públicos e perda da credibilidade do Banco Central (BC) por não conseguir levar a inflação para o cento de meta de 4,5% ao ano.
- No primeiro mandato da (presidente) Dilma (Rousseff) ainda houve manipulação do câmbio e controle dos preços - lembra Portugal, explicando a alta mais forte dos últimos meses.
Em relação à perda de credibilidade do BC, Portugal explica que, como o país não conseguiu alcançar o centro da meta nos últimos anos, se forma no mercado a expectativa de que a autoridade monetária não será capaz de frear os preços. Isso leva os agentes da economia - desde trabalhadores a empresários - a buscarem ou aplicarem reajustes que embutem esta percepção, realimentando o espiral inflacionário.
- Isso afeta o processo de formação dos preços de forma sistêmica - observa Portugal.
Mesmo assim, avalia o professor da Ufrgs, salvo novas surpresas negativas o BC não deve voltar a aumentar o juro para tentar segurar os preços.
- Em tese, deveria. Mas o BC já se conformou com inflação alta em 2016. Chegar a 4,5% só em 2017 - avalia Portugal,
Um novo ingrediente a alimentar a inflação pode vir da necessidade do Planalto de aumentar arrecadação. Em busca de caixa, o governo federal cogita elevar a carga tributária sobre combustíveis, medida com potencial de acelerar os índices ainda mais.