Sabe aquelas filas de ônibus de sacoleiros que partem da fronteira do Rio Grande do Sul ao Uruguai, ansiosos por encher os veículos com eletrônicos, bebidas e roupas? Esqueça.
Por força da desvalorização do real, o comércio fronteiriço se inverteu. Em vez de caravanas de brasileiros em busca de bens importados, como ocorria há anos, o que se vê agora é uruguaios ingressando no Brasil, à procura de produtos muito mais baratos do que os encontrados no seu país.
Rivera, a maior cidade uruguaia fronteiriça com o RS, costumava receber 150 ônibus de brasileiros nos finais de semana e até 15 mil turistas - cenário que virou passado. Os ônibus sumiram, estacionamentos estão vazios, quartos de hotéis custam a encher.
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A maioria dos lojistas uruguaios conta nos dedos os clientes. Sofrem não apenas com a falta da habitual clientela estrangeira, como assistem à debandada dos compatriotas. Nos finais de semana, até 500 veículos uruguaios adentram no Brasil, em busca de alimentos, combustível e roupas.
Quem considera caro o combustível no Brasil leva choque ainda maior quando
passeia no Uruguai e reabastece por lá. Em pesos, o litro da gasolina equivale a R$ 6,21. Já na cidade de Jaguarão, na fronteira do sul do Estado, custa R$ 3,90 - caríssimo para brasileiros, mas quase metade do preço para uruguaios. Isso explica por que todos os dias uma romaria de carros do Uruguai atravessa a ponte Mauá ao Rio Grande do Sul apenas para encher o tanque.
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Lojas e supermercados brasileiros também estão lotados de uruguaios. A cota de compras permitida pela alfândega é de apenas US$ 150 (cerca de R$ 570). Mas, nos dois supermercados Niederauer de Santana do Livramento, carrinhos com as compras do mês feitas pelos hermanos superam em muito essa cota. Para escapar da Aduana, usam ruas menos movimentadas.
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Gerente do Niederauer, Eli Kaiser calcula que o movimento de uruguaios dobrou:
- Eles pelam as prateleiras. O custo está na metade do que pagam em Montevidéu.
Raul (que fornece só o primeiro nome, com medo de fiscalização) é um dos que saiu da capital uruguaia para comprar na fronteira gaúcha. Ele ressalta que uma blusa feminina de algodão de qualidade média sai por R$ 18 no Brasil e o equivalente a R$ 72 na maior parte de seu país.
Uma lata de café custa aos uruguaios R$ 13 no Brasil e o equivalente a R$ 26 em Rivera. Um tubo de pasta de dentes sai por R$ 4 em Jaguarão e cerca de R$ 8 na vizinha cidade uruguaia de Rio Branco.
Efeito do Câmbio
Uruguaios lotam comércio na fronteira com o Rio Grande do Sul
Desvalorização do real inverte fluxo de sacoleiros nas cidades que fazem limite com o Uruguai, enquanto lojas do país vizinho registram queda de até 85% nas vendas
Humberto Trezzi / Brasília
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