O desembolso foi grande - o maior foi a perda de dois gestores respeitados em suas áreas de atuação, Arthur Chioro e Roberto Janine Ribeiro -, mas o retorno veio de bom tamanho. A maior alta da bolsa em mais de 10 meses, de 3,8%, mostra como o mercado "valorizou" a reforma da Esplanada dos Ministérios, mesmo tardia e mesmo desconfigurada de racionalização para recomposição da base aliada. Ainda que atrasado e incompleto - não chegou sequer ao corte anunciado de 10 pastas -, o movimento do Planalto tem potencial para destravar a política e a economia, mas ainda tem de provar sua eficácia.
A primeira prova será a apreciação dos vetos da presidente Dilma Rousseff a projetos que representam gastos insustentáveis para um país que persegue o equilíbrio fiscal com grande dificuldade. Se era tão simples, é difícil evitar a pergunta por que não foi feito antes, mas um importante passo simbólico foi dado.
"A crise política agrava a crise econômica", diz ministro
Oito ministérios, 30 secretarias, 3 mil cargos em confiança e 10% nos salários da cúpula do Executivo estão longe de fazer a diferença para um país que caminha para o segundo ano de déficit primário e ainda tem o desafio de garantir que não haverá um terceiro.
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O discurso da presidente começou pouco convincente, recorrendo até à esquecida Câmara de Gestão e Competitividade para anunciar a criação de uma certa Comissão Permanente de Reforma do Estado - com alto risco de seguir o mesmo caminho: o vácuo. Mas ao assumir publicamente que o real objetivo das mudanças é dar governabilidade, Dilma vestiu o uniforme do pragmatismo tão admirado pelos investidores.
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A reforma dá uma chance de desfazer o nó político, mas a tarefa de resolver o imbróglio econômico só começou. Em dia que só houve atenção às boas notícias, a bolsa reagiu e o dólar recuou.
Nem se deu atenção ao discurso do novo ministro da Saúde, Marcelo Castro, que sugeriu cobrança de 0,20% de CPMF duas vezes, no débito e no crédito, para "rachar" a arrecadação entre Previdência, como quer o governo, e a Saúde. A partir de segunda-feira, o que o mercado vai cobrar é entrega: a solução para fechar 2016 no azul.