Retomar a normalidade nos negócios depois da prisão dos presidentes da segunda maior empresa privada e da segunda maior empreiteira do país e seria desafiador em qualquer circunstância. Em cenário de dificuldades, os desdobramentos são imprevisíveis.
A agência de classificação de risco Moodys colocou a avaliação de crédito de Odebrecht e Andrade Gutierrez em perspectiva negativa (aviso de que pode baixar a nota a qualquer momento), mesmo observando que as duas companhias têm cacife para bancar suas dívidas sem necessidade de financiamento. E sobram outros pontos de interrogação.
O ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, afirmou que seria "abuso de poder" barrar as empreiteiras investigadas na Lava-Jato em futuras licitações, inclusive as do Programa de Investimentos em Logística, que concede rodovias, ferrovias, aeroportos e portos. Como a repercussão internacional das prisões de sexta-feira foi forte, o futuro do plano para tentar recuperar investimentos no Brasil se tornou ainda mais opaco. Se havia expectativa de contar com o arredio capital estrangeiro, os sinais podem ser tido contraproducentes.
Saber que atos dessa dimensão têm consequências econômicas não pode ser motivo para frear investigações. Nem para condenar antes que a Justiça o faça. Se um dos maiores empresários do país não é intocável, ninguém é. A bolsa sofreu na sexta-feira, e não se identificam no horizonte motivos claros de reação. São momentos delicados, mas se esse for o preço a pagar por uma reforma profunda na maneira de fazer negócios no Brasil, terá valido a pena.