Com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) relegado a algo secundário neste ano, o Banco Central (BC) fez nesta quarta-feira mais um movimento em linha com o ajuste da economia pretendido para o início do segundo mandado da presidente Dilma Rousseff. Na tentativa de debelar a inflação, que ameaça estourar o teto da meta em 2015, o Comitê de Política Monetária (Copom) promoveu a terceira alta consecutiva da Selic após as eleições. Com o aumento de 0,5 ponto percentual, o juro básico da economia chegou a 12,25% ao ano, o mais alto patamar desde agosto de 2011.
Amargo por significar freio nos investimentos, produção industrial e no consumo, o remédio do juro alto busca frear a disseminação dos efeitos da pressão principalmente de preços administrados, como a gasolina, que deve subir R$ 0,22 por litro com a volta da cobrança da Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), e da energia, mais cara pela queda do nível dos reservatórios das hidrelétricas.
Bolsa dispara e dólar cai para o menor patamar em um mês
Um dia após apagão, Brasil importa energia da Argentina
Assim, avaliam economistas, a escalada da Selic é coerente com o ajuste fiscal empreendido pelo governo federal. Com essas medidas, a intenção do governo seria recuperar a credibilidade e começar a injetar confiança no mercado para os investimentos voltarem a crescer e a economia, lentamente, reagir.
- Se o BC quer garantir a convergência da inflação para o centro da meta (4,5% ao ano) até o final de 2016 tem de fazer uma política monetária mais apertada agora - diz Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, que prevê um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 6,8% neste ano, acima do limite de 6,5%, puxada principalmente pelos preços administrados, que caminham para alta de 9,5% em 2015.
O professor de finanças Gilberto Braga, do Ibmec do Rio de Janeiro, lembra que não há surpresa na iniciativa do governo de fazer de 2015 um ano de ajustes na economia, com a busca por cortar gastos e aumentar receitas. Além de retomar a Cide, já foram anunciadas iniciativas como o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no crédito, de alíquotas de importação, de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) relativo a cosméticos e regras mais rígidas para benefícios como o seguro-desemprego.
- O governo está fazendo uma espécie de poupança para o futuro para soltar as amarras da economia só no final do mandato - avalia Braga, que também espera neste ano uma inflação medida pelo IPCA acima do teto de 6,5%.
Para Antonio Madeira, economista da LCA Consultores, o quadro da inflação em 2015 será ainda mais grave, com um IPCA acima de 7%, contaminado principalmente pelos preços administrados, que podem subir até 10%. Dessa forma, o mais urgente para 2015 é o ajuste fiscal, com o crescimento da economia em segundo plano.
- Com essa combinação de política fiscal e monetária contracionistas não há como vislumbrar crescimento da economia em 2015. Apesar de as projeções indicarem algo entre 0,2% e 0,3%, não seria de se estranhar se tivermos um PIB negativo - alerta Otto Nogami, professor de economia do Insper.