O combustível da fábrica de máquinas Agrimec é a persistência. Quando a primeira boa ideia do fundador, Odilo Pedro Marion, uma inédita e revolucionária capinadeira, foi vencida nas lavouras de soja pela eficácia dos herbicidas, ele poderia ter desistido. Preferiu seguir identificando soluções inteligentes e práticas para os problemas do campo.
Depois de três décadas de invenções para lavouras de arroz e cana-de-açúcar, a capinadeira finalmente sairá da fábrica, agora destinada ao cultivo de alimentos orgânicos.
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- Estou tirando do armário peças com 37 anos para colocar na lavoura. Eu nunca desisti dessa máquina - orgulha-se o empresário.
A Agrimec foi fundada em 1974, em um espaço hoje destinado a uma oficina mecânica, no centro de Santa Maria. Durante o serviço militar, Marion tinha sido mecânico e foi dessa experiência, aliada à origem no campo, no interior de Sobradinho, que surgiu o desejo de fabricar implementos agrícolas. Se fosse inventada hoje, a capinadeira rotativa, primeira criação de Marion, qualificaria a empresa como uma legítima startup.
Sem sucesso com a capinadeira, Marion, recém-formado em Administração, decidiu se dedicar a uma cultura mais estável: o arroz. Em 1977, a Agrimec se instalou no Distrito Industrial de Santa Maria, até então desocupado e sem nenhuma infraestrutura. E de lá sobreviveu a diferentes crises do agronegócio, aproveitando os momentos de recessão para inovar.
- Hoje somos considerados os maiores especialistas no cultivo de arroz, com vários implementos específicos para a lavoura orizícola. E para ter esse conhecimento, comecei a plantar - conta o empresário.
Como agricultor, Marion exercitava a inovação a cada dia. Precisava de uma bomba de irrigação, mas não tinha dinheiro, já que o investimento na capinadeira havia levado embora o capital do negócio. Ele então fabricou uma bomba própria, mais funcional. O sucesso foi enorme. Depois, vieram a valetadeira, a plaina niveladora e o rolo compactador, todos implementos práticos e adaptados às necessidades de quem planta arroz no Estado.
- Não fechamos o nosso foco, produzindo apenas plantadeiras ou colheitadeiras. Quem faz isso só vende durante um período do ano. Nós olhamos quem cultiva - diz Marion.
A Agrimec sobreviveu no mercado mesmo com a chegada dos agrotóxicos. Mais tarde, passou pela superinflação e pelos planos econômicos. Também resistiu à queda no preço das commodities, entre 2005 e 2006. Todos os obstáculos viraram inspiração para Marion:
- A crise obriga a inovar. A gente fazia qualquer coisa, até soldar enxada quebrada, para ter alguma receita. Nessa época, mais da metade das indústrias de implementos quebrou. Mas nós fomos enchendo as gavetas de projetos.
Cada vez que a economia dava uma guinada, a Agrimec crescia. Na última crise, a empresa chegou a fabricar peças de vagões para uma montadora. Tudo para não precisar reduzir a equipe. Quando o mercado de grãos se recuperou, a empresa retomou a trajetória ascendente. Nos últimos sete anos, o faturamento cresceu 318%. A previsão para 2014 é de aumentar em 20%, tanto a produção quanto as vendas. Pelo menos mais um trabalhador tem sido contratado por dia na fábrica para dar conta dos pedidos. Em janeiro e fevereiro, foram 55.
- No ano passado, pela primeira vez na história, o agronegócio conseguiu estar bem em três fatores: preço bom, financiamento disponível e recorde na produção. Agora é manter - comemora o empresário.
Expansão para o Sudeste
Desde o início do negócio, ao precisar desviar o foco da soja para o arroz, Odilo Marion, fundador da Agrimec, estabeleceu metas de diversificação na empresa que hoje dirige junto com os filhos. Foi assim que chegou à cana-de-açúcar, cultura crescente no Sudeste.
- Eu comecei a projetar os implementos para cana sem conhecer. Já tinha visto canaviais gaúchos, mas pequenos. Visitando São Paulo é que vi realmente como era - conta Marion.
Quando os agricultores não puderam mais queimar a cana-de-açúcar para colher os talos, foram necessárias máquinas especializadas para a lavoura. Marion criou e patenteou cultivadores inéditos no mundo, como um equipamento para aplicar herbicida e adubo embaixo de uma camada de um palmo de palha que resta no canavial depois da colheita. De olho nesse mercado, a Agrimec tem planos de montar um escritório no interior de São Paulo.
Perfil:
- Fundação: 27 de maio de 1974
- Localização: Santa Maria
- Produção: 1,4 mil máquinas por ano
- Número de funcionários: 333
- Clientes: 3 mil clientes cadastrados no segmento do agronegócio, entre produtores e revendas.
- Exportação: 20% da produção é exportada para todos os países da América Latina e para Gana, Etiópia, Senegal e Moçambique na África
- Faturamento em 2013: não informado
- Faturamento em 2014: crescimento previsto é de 20% em relação ao ano anterior