A despeito da incerteza predominante, há quem reme contra a correnteza de temores e enxergue a possível chegada das usinas como a redenção econômica para a região, uma das mais carentes do Estado. Um dos entusiasmados é o empresário Airton Bertol da Silva, que não arrefece o otimismo mesmo sabendo que a casa onde os pais vivem há 60 anos, em Porto Mauá, também passará a ser apenas uma lembrança mergulhada no reservatório da usina Panambi.
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Longe dos grandes centros, sem indústrias ou serviços e até hoje fora do mapa dos investimentos, a região seria beneficiada por recebimento dos royalties das usinas, uso turístico do futuro lago - que também permitiria criar peixes - e empregos gerados pela construção e, depois, pela operação das hidrelétricas, lista Airton. Conforme a Eletrobras, somente as obras abrirão 12,5 mil vagas. As duas hidrelétricas pagariam anualmente R$ 6,8 milhões a título de compensação financeira aos municípios gaúchos atingidos. Porto Mauá seria ainda premiada pela reconstrução da cidade de forma planejada, por futuros freeshops e, como a cereja do bolo, por uma ponte de ligação com Alba Posse, na Argentina. O empresário preside uma fundação que luta pela ligação com o país vizinho.
- Hoje temos apenas um rio que passa. Fico triste porque a nossa região não cresce. Infelizmente muitas pessoas são como São Tomé, só acreditam vendo - diz.
VÍDEO: moradores de municípios atingidos temem pelo futuro
Dono de um dos dois únicos postos de combustíveis de Garruchos, o empresário Ricardo Colombo se integra à corrente minoritária que deixa a desconfiança à margem e vê apenas benefícios com a construção das hidrelétricas. As usinas, espera Colombo, também devem trazer o asfalto à cidade, hoje separada da rodovia pavimentada mais próxima por 60 trepidantes quilômetros de estrada de chão.
Depois de duas décadas fora de Garruchos, o metalúrgico Adão Marques de Oliveira, 41 anos, voltou no ano passado de Novo Hamburgo à terra natal em busca de uma vida tranquila e montou uma pequena serralheria, igualmente ameaçada pelo avanço das águas. Por enquanto, entende Oliveira, é possível apenas concluir que as duas usinas trarão benefícios, mas também riscos à cidade.