Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi)
O que está impedindo um crescimento mais acelerado neste momento e gerando a inflação é uma situação mais conjuntural, em que há crescimento de demanda, mas uma dificuldade de as empresas elevarem a produtividade. Com isso, caem as margens das empresas e também os investimentos. O governo precisa observar que esse choque de oferta agrícola não ocorrerá mais nos próximos meses. Ou seja, os fatores que elevaram a inflação nos últimos seis ou oito meses irão desaparecer. No entanto, é preciso tomar cuidado com as expectativas, é aquilo de que quando há expectativa de inflação, as empresas e a indústria acabam se antecipando e elevando os preços. O BC tem informações suficientes para definir o que fará com os juros, mas eu diria que há uma boa probabilidade de alta neste momento.
LEIA TAMBÉM: Para Dilma, eventual elevação dos juros será em um "patamar bem menor"
Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio
O BC começou a derrubar as taxas de juros em momento oportuno, quando começou a crise europeia e havia situação de deflação. Mas o país não fez tudo para garantir o crescimento, que era desindexar a economia. Os indexadores do salário mínimo, dos reajustes salariais e mesmo dos aluguéis não casam com a produção e a oferta, e pressionam a alta de preços. Temos ainda a transferência de renda com os programas sociais, que eleva o consumo sem aumento da oferta. Isso afeta principalmente o setor de serviços, que não tem concorrência dos importados. Se for bem feita a política de alta de juros, as pressões inflacionárias não ficarão disseminadas. A atividade econômica pode ser vítima neste ano, mas nos próximos anos será benéfico. É preciso lembrar que há preços reprimidos na economia para este ano, como gasolina, ônibus e reajustes salariais. O BC não tem alternativas.
Roberto Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban)
Nossa economia é mais do que câmbio, alíquotas, juros e desonerações. O problema central é que estamos com uma política econômica anacrônica, falta uma visão de como nos inserimos no mundo. O governo está com diagnóstico errado do por que da inflação e do crescimento baixo. Não fez as reformas necessárias para o país crescer de forma equilibrada, e agora está reagindo à alta dos preços da colheita, pois de fato há um ciclo de reajustes que precisa ser enfrentado. Ou se faz um aperto fiscal ou se mexe na taxa de juros, e o governo já sinalizou que não haverá aperto fiscal. Então sobra a taxa de juros. Não sei se uma alta na Selic irá sacrificar a economia, pois se você mostra ao mercado que está fazendo a coisa certa, perseguir a meta de inflação, isso tem uma repercussão positiva, volta a atrair investimento no longo prazo. O que não se pode é negar a inflação como muitas vezes foi negada.
Luiz Fernando Rodrigues de Paula, professor titular de economia da UFRJ e presidente da Associação Keynesiana Brasileira
A redução significativa na taxa Selic e a desvalorização de 30% na taxa de câmbio supostamente viabilizariam o crescimento econômico. Mas o comprometimento das famílias com pagamento de dívidas tem pesado muito no consumo e nos investimentos. Quando o governo começou a reduzir os juros havia alto endividamento, e o crescimento do crédito começou a desacelerar. Como o câmbio teve forte apreciação, parte do aumento remanescente foi atendido pelos importados. Para completar, não há perspectiva, a médio prazo, de crescimento da economia mundial, isso deteriora o investimento das empresas. Neste contexto, o BC deveria esperar um pouco, talvez até a próxima reunião do Copom, em maio, antes de fazer uma alta na taxa de juros, ver se há sinal de que a economia brasileira irá retomar o crescimento. Mas há, sem dúvida, uma inflação que está batendo no teto da meta e precisa ser observada.
Eletrocardiograma financeiro
Houve reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) que foram marcadas pela tensão e surpresa:
23 de julho de 2003
Tensão pré-Copom
Uma das primeiras vezes em que se falou em "tensão pré-Copom" foi em julho de 2003, pela voz do então ministro da Fazenda, Antônio Palocci. Há quase 10 anos, a taxa básica girava em estratosféricos 26%, depois da tensão gerada pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Na época, foi adotado um corte de 1,5 ponto percentual, muito esperado pelo mercado.
20 de janeiro de 2011
Estreia pela cartilha
Um Banco Central dominado por profissionais de carreira - tendência que só se intensificaria nos meses seguintes -, marcou a primeira reunião do Copom do governo Dilma com uma alta de 0,5 ponto no juro, de 10,75% para 11,25%. Era o BC agindo para frear o consumo e segurar a inflação depois do crescimento incomum de 2010 que, depois se saberia, alcançaria 7,5%.
31 de agosto de 2011
Estupor no mercado
O início do declínio do juro básico provocou quase estupor no mercado, que não contava com o corte de 0,5 ponto percentual em 31 de agosto de 2011 - apostava na manutenção da Selic. Na época, a inflação projetada para o ano encostava no teto da meta, em 6,31% no acumulado do ano, segundo expectativa média do mercado que aparecia no relatório Focus do BC.