Quando o bilionário Eike Batista mergulhou em um inferno astral, com perdas gigantescas no valor de mercado de suas empresas, uma operação de resgate começou a ser armada. Um banqueiro com vasta experiência em montar, desmontar e remontar negócios foi chamado: André Esteves, fundador e presidente do banco de investimentos BTG Pactual.
Firmado em março com o Grupo EBX, de Eike Batista, o contrato de assessoria estratégica e financeira reforçou os holofotes sobre Esteves, já destacado pela desenvoltura com a qual articula fusões e aquisições multibilionárias envolvendo algumas das principais empresas do país.
Além da destreza de Esteves nos negócios, Eike toma emprestada a credibilidade de um dos investidores mais influentes do país, em um momento de profunda desconfiança do mercado sobre a capacidade de as empresas X gerarem lucros em setores tão distintos como construção de navios e geração de energia.
Em mais uma amostra de que o mercado já não assina embaixo dos planos de Eike, as ações da OGX, companhia de extração de petróleo, desabaram 10,7% na Bovespa na quarta-feira. Ontem, subiram 0,8%.
Em Porto Alegre nesta quinta-feira, onde participou de seminário promovido pela Revista Amanhã, André Esteves falou com exclusividade a ZH sobre seus planos para resgatar os negócios de Eike Batista. Um dos mais ousados é reduzir a participação do empresário com a entrada de novos sócios.
- Em grandes projetos dessa natureza, você não tem concentração de participação tão significativa da holding - explica Esteves.
O BTG quer replicar o modelo aplicado ao braço de energia do grupo, a MPX, única companhia do grupo EBX com plano de negócios no Rio Grande do Sul, que recentemente ampliou a participação da alemã E.ON em seu capital. Apenas iniciados os trabalhos, Esteves já tem de se esquivar de polêmicas: nega-se a responder se concordaria com uma nova ajuda do governo federal às empresas, hipótese que vem sendo discutida no mercado. Salvar os negócios do empresário será, provavelmente, o desafio de Hércules na carreira de Esteves - e uma valiosa oportunidade para Eike Batista dar a volta por cima.
Três tacadas
Ações traçadas pelo banqueiro André Esteves para as empresas de Eike:
Redesenhar os projetos
"Os projetos são muito grandes, muito complexos e feitos ao mesmo tempo. É natural que exista dificuldades de execução. Há um momento adverso. O que estamos tentando fazer é ordenar do ponto de vista de estrutura de capital a execução e as fases dos projetos. O trabalho que estamos fazendo nós já fizemos em outras empresas. Há cerca de dois anos, tivemos uma parceria com a Tam (o BTG assessorou a fusão entre a aérea brasileira e a chilena Lan) que pode ser análoga a isso, além de termos feito trabalhos semelhantes com empresas com menor high profile."
Reduzir a participação de Eike
"Em grandes projetos desta natureza, desta complexidade, em geral você não tem concentração de participação tão significativa, esta é uma situação atípica. Então, é um simples rumo ao modelo mais natural de participação. Há diversas maneiras disso ocorrer, incluindo aumentar o capital das empresas (do Grupo EBX). Um exemplo é a companhia de energia do grupo, a MPX, na qual a holding tem cerca de 24%, controlada em conjunto com a E.ON, uma grande companhia alemã, mais BNDES e mercado de capitais. É um arranjo perfeitamente possível para outras companhias do grupo."
Posicionar as estratégias
"Eike é um empreendedor fantástico, um exemplo para o Brasil do ponto de vista de pensar grande e querer formular projetos estruturantes. O tipo de assessoria que damos se limita a estrutura de capital e ao posicionamento estratégico. Mas a execução das estratégias e a formulação inicial cabe ao empreendedor. Não temos a pretensão de aconselhar os empreendedores do Brasil como tocar seus negócios. Eu assumo que eles são mais competentes do que a gente em fazer isso."
Quem é quem
André Esteves
Com fortuna estimada em R$ 4 bilhões, o matemático carioca começou a ganhar visibilidade após vender o Pactual, banco no qual tinha 30% de participação, ao gigante suíço UBS, em 2006. Anos depois, recomprou o Pactual por um valor menor e fundou o BTG Pactual, especializado em investimentos e intermediações de negócios entre empresas.
Tem fama de adotar postura agressiva nos negócios, buscando fazer dinheiro em operações que muitos empresários dão como perdidas. Alguns de seus negócios mais ousados são a compra do Banco Panamericano, após a quase falência da instituição financeira do empresário Silvio Santos, e a intermediação da fusão entre a Tam e a chilena Lan, em 2010.
Eike Batista
Após ocupar a invejadíssima sétima posição da revista Forbes dos maiores bilionários do mundo 2011, o mineiro Eike Batista desabou para a 100ª colocação no ano seguinte, muito em razão da queda do valor de mercado das empresas. O fenômeno Eike começou em 2007, quando lançou ações do braço de mineração, a MMX.
Amigo do ex-presidente Lula, Eike teve participação do governo em seus negócios, em especial por meio do BNDES. Analistas avaliam que muitos dos planos de Eike, que envolvem complexas operações logísticas e processos delicados de licenciamento ambiental, começaram a encontrar dificuldades no atual governo.
Das seis empresas do Grupo EBX - MMX (mineração), LLX (logística), MPX (geração de energia), OSX (estaleiros), OGX (petróleo e gás) e CCX (explora carvão na Colômbia) -, apenas a MMX gera negócios em ritmo considerado adequado por investidores. O valor de mercado das companhias tem caído acentuadamente nos últimos meses, em razão da redução das reservas estimadas nas áreas de exploração.