O ano de 2012 foi o de maior mudança para o investidor desde o início do Plano Real, em 1994. De janeiro a dezembro, a taxa básica de juros (Selic) da economia brasileira caiu quase quatro pontos porcentuais, para o piso histórico de 7,25% ao ano. Não teve jeito: o ganho fácil com aplicações financeiras da época do juro alto ficou para trás. Em pouco tempo, o brasileiro teve de começar a se preocupar com ganho real (rendimento acima da inflação), tributação incidente nos investimentos e prazo das aplicações.
Essa nova realidade significa uma alteração muito grande no dia a dia do investidor. Uma pessoa de 45 anos que planeja acumular R$ 1 milhão até os 65 anos deveria investir R$ 2.700 por mês com o juro real médio de 4% ao ano. Hoje, com o juro real próximo de 1%, ele deve aplicar mensalmente cerca de R$ 3.700 para o mesmo objetivo. A mudança no cenário de investimento afetou até a poupança, investimento mais popular do Brasil. As aplicações feitas a partir de 3 de maio passaram a ter um rendimento de 70% da Selic. O montante aplicado antes disso mantém a rentabilidade de 6,17% ao ano mais a Taxa Referencial (TR). Ao que tudo indica, a taxa básica de juros deve permanecer baixa em 2013, segundo a avaliação de analistas, principalmente porque a economia brasileira está demorando a reagir. E os investidores têm duas opções: ou aumentam o montante destinado para aplicação ou correm mais risco para buscar uma rentabilidade maior.
-Não dá mais para ficar na zona de conforto- afirma Sinara Polycarpo, superintendente de investimento do Banco Santander.
Os prazos também terão de ser alongados para aumentar a rentabilidade. Essa mudança no perfil dos investimentos não significa que o brasileiro já reviu suas posições. A poupança continua com a captação em alta - em novembro, o saldo era de R$ 484,9 bilhões, segundo o Banco Central. Na indústria de fundos, boa parte dos recursos ainda está aplicada na renda fixa e no DI, aplicações mais influenciadas pela redução dos juros básicos. A despeito do conservadorismo brasileiro com as aplicações, o mercado financeiro tem se movimentado.
Entre as apostas estão as aplicações isentas de imposto de renda, como a Letra de Crédito Imobiliário, os fundos imobiliários e as debêntures. A retomada da Bolsa de Valores em dezembro também faz com que a aplicação volte a ganhar espaço na recomendação dos gestores.
-O próximo boom no Brasil deve ser no mercado de investimentos. Pouca gente compra produtos financeiros. Estamos falando em aproximadamente 40 milhões de pessoas que têm algum produto financeiro, o que é muito pouco para uma população de 200 milhões- afirma Rossano Oltramari, analista chefe da XP Investimentos.
O que ainda vale é a orientação para que o investidor diversifique as aplicações e não aposte em somente um ativo.
-O investidor não deve colocar todos os seus ovos na mesma cesta. Quando ele quer correr algum risco e dependendo do perfil, por exemplo, pode deixar 70% do dinheiro em investimentos conservadores, 20% em produtos moderados e 10% em alguns produtos de risco- afirma Marcos Daré, diretor da área de investimentos do Bradesco.