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O que têm em comum a suíça Davos e bairros da periferia de Porto Alegre? Se você pensou que a resposta certa é nada, errou. No mais importante encontro da elite econômica mundial, na gélida Davos, a partir da próxima quarta-feira, quando os líderes do planeta estarão debruçados sobre a crise financeira, um papel estará reservado a 13 costureiras de baixa renda, moradoras de vilas de Porto Alegre.
Foram elas que, desde novembro, se dedicaram com esmero a confeccionar bandeiras (uma do Brasil que será levada em alto estilo por uma porta-estandarte da Portela) que serão mostradas em um grande jantar para 1,7 mil figurões da economia mundial, como presidentes, primeiros-ministros, grandes empresários e artistas. À mesa, paçoca, acarajé, mandioquinha e caipirinha. Ao som, claro, de bossa nova, samba, pagode e até vanerão.
Depois de exaustivos debates sobre o tema A Grande Transformação: Formatando Novos Modelos, como ninguém é de ferro, os participantes do exclusivo encontro nos alpes suíços terão uma noite brasileira. O evento a cada ano é responsabilidade de um país. A convite da Agência Brasileira de Promoção de Exportações, a gaúcha Capacità Eventos organiza a festa do sábado, dia 28, em meio a jardins tropicais, com shows de dança e com vídeos de 60 brasileiros comuns saudando os participantes do Fórum Econômico Mundial.
- É o Brasil na moda. Em contato anterior, Davos ficou impressionada com imagens das operações da Petrobras e da Vale - contou, entusiasmada, Eliana Azeredo, sócia da Capacità que lidera uma equipe de 80 pessoas no projeto e enfrenta o "maior desafio dos 15 anos da empresa".
A confecção das bandeiras ficou a cargo das integrantes das ONGs A.m.a.r. a vida - Associação Mundial de Amor e Respeito à Vida, Casa Brasil Porto Alegre e Cooperativa de Ensino do Reciclador de Porto Alegre, contratadas pela Tecno Costuras.
E quem vai assistir a toda essa festa brasileira e participar do Fórum? A chanceler alemã, Angela Merkel, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, chefes de Estado de cerca de 40 países, além dos representantes do governo brasileiro, como o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
Antes, os participantes terão analisado exaustivamente como Davos pode ser uma plataforma para a discussão de reforma mundial que dê mais equilíbrio à economia. A partir de uma série de modelos fundamentais, na visão de Klaus Schwab, fundador e CEO do Fórum Econômico Mundial.
Um seria o chamado "poder colaborativo", necessidade de integrar os recém-chegados ao mercado, "capacidade de exercer o poder de colaboração que irá determinar o futuro do negócio, nacional, regional e global". Um segundo modelo seria reconhecer que progressos efetivos partem do pressuposto de que somos diferentes, mas interdependentes. Assim, é necessário cultivar um sentimento muito maior de união regional e global.
Enquanto o outro ponto seria enfrentar seriamente o impacto social da globalização e da nova onda de inovação tecnológica, avaliando a qualidade do crescimento econômico, o quarto modelo visaria à criação de emprego, proporcionando aos jovens a capacidade de criar suas próprias vagas, inclusive a partir do incentivo ao empreendedorismo.
Quem sabe esses modelos que fazem parte da preconizada grande transformação regional e global não podem ganhar um empurrãozinho a partir da maior divulgação da mudança de patamar do Brasil de economia desacreditada em líder emergente do cenário mundial?