Atingida por uma enxurrada de recalls, que engloba cerca de 8,5 milhões de veículos, a Toyota suspendeu, no final de semana, a produção de dois modelos híbridos, enquanto procura uma solução para falhas nos freios, anunciou a porta-voz da empresa Mieko Iwasaki.
No sábado, a maior montadora do mundo informou sobre a suspensão da produção dos modelos Sai Sedan e Lexus HS250h, no Japão, até pelo menos 20 de fevereiro. Os principais problemas que motivaram recall de alguns veículos são falhas nos pedais do acelerador e do freio. Na última sexta-feira, a companhia anunciou um novo recall, de cerca de 10 mil caminhonetes Tacoma na América do Norte por problemas no sistema de transmissão fornecido pela Dana. Diante da desconfiança dos consumidores, está avaliando oferecer garantia mais longa, de pelo menos 10 anos.
Apesar dos problemas, a Toyota mantém linhas de montagem que funcionam como um relógio suíço. O abastecimento da produção é pontual. Os trabalhadores são dedicados e instruídos para detectar defeitos.
Por isso, as recentes hesitações da montadora em torno dos recalls parecem pouco características. Os princípios de eficiência e infalibilidade que ajudaram a Toyota a conquistar uma reputação quase perfeita não impediram que fosse atingida por problemas fora do chão de fábrica igualmente cruciais - como desenvolvimento de projetos, gestão de crise e programas de computador.
Acomodada, a direção da Toyota não praticou o que havia pregado desde as bases, avalia Anand Sharma, diretor geral da TBM Consulting Group, com sede na Carolina do Norte (EUA).
- Os gerentes da Toyota não reagiram aos primeiros sinais. Naquele momento, deveriam ter identificado as causas. Se a marca já não simboliza qualidade, o que representa? - indaga.
Os defeitos com o pedal do acelerador e o tapete foram erros de projeto em peças de reposição fabricadas por fornecedores, e a falha do freio nos modelos híbridos teria sido causada por um problema na programação eletrônica. Não foram erros de fabricação, o tipo de defeito que os operários estão treinados para detectar.
- A Toyota segue sendo a melhor companhia industrial do mundo em gerenciamento de produção - disse Michael Cusumano, professor da Escola Sloan de Administração, de Londres.
Operários têm a prerrogativa de interromper a produção
As proezas da linha de montagem da Toyota são alvo de incontáveis livros, copiadas por rivais e consideradas decisivas na escalada que transformou a montadora na maior do mundo.
O método Toyota, conhecido como produção enxuta, foi desenvolvido na década de 1950 pelo engenheiro Taiichi Ohno, referenciado na companhia como "kamisama", que significa deus.
Baseada na determinação obsessiva para eliminar desperdícios, o método Toyota inclui trabalhadores que desempenham seu trabalho com paixão e seguem as instruções ao pé da letra. Todos os trabalhadores têm a prerrogativa de interromper a linha de montagem. Mesmo assim, a empresa não evitou prejuízos por problemas vindos de fora da fábrica. As unidades da Toyota estão atestadas com lemas que instam os trabalhadores a propor "kaizen" - inovações que permitam aumentar a eficiência da empresa.
Ao pedir desculpas em entrevista recente, o presidente, Akio Toyoda, rendeu homenagem à história da empresa que seu avô fundou e prometeu ouvir mais os consumidores.
- Esse é o meu próprio caminho ao kaizen - assegurou.
GIGANTE BUSCA SAÍDAS
Toyota freia linha, faz novo recall e planeja mais garantia
Sucessivas falhas em processos que culminaram em convocações põem à prova modelo de produção
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