Se a inovação já havia dado o tom da Expointer na última feira, com a estreia de espaços voltados a este fim, em 2023 ela ganha ainda mais força. A edição de número 46 da maior feira agropecuária da América Latina quer ser referência não só naquilo que já se propõe, que é mostrar o melhor da agricultura, da pecuária e das máquinas do campo, mas também se consolidar como ambiente de aproximação entre os atores que fazem o agro e o desenvolvimento da tecnologia.
Prova disso são as experiências interativas que a cada ano ganham mais espaço no parque Assis Brasil, em Esteio. No estande do Senar-RS, no Pavilhão Internacional, duas atividades imersivas dão uma mostra do que é viver a realidade campeira.
Numa delas, uma sala de espelhos simula o dia a dia no campo. As imagens projetam uma série de atividades, como o manejo dos animais, a colheita das lavouras ou o tocar do gado a cavalo, como se o espectador estivesse no comando da lida.
— Estamos tendo um feedback muito bonito, tem gente que se emociona demais. Gente que era do campo e foi para a cidade, e ao voltar a ver esse cenário, se deixa levar pela lembrança — conta Diego Tramontini, médico veterinário e analista de apoio estratégico do Senar.
Outra experiência usa a tecnologia para mostrar a própria aplicabilidade dela na produção. É um voo simulado de drone, que faz o público ver “na prática” como o equipamento pode auxiliar a observar lavouras, monitorar o pasto ou fazer a contagem dos rebanhos. O visitante-piloto fica na horizontal, como se estivesse em um voo de asa-delta, para visualizar as imagens projetadas em um telão. A “viagem” dura cerca de três minutos e é acompanhada de uma narração que explica as possibilidades do drone no campo e descreve as imagens captadas em propriedades gaúchas.
O casal Fernando e Alessandra Rechsteiner, produtores em Pelotas, no sul do RS, participaram da imersão e gostaram do que viram “lá do alto”. No primeiro fim de semana da feira, cerca de 800 pessoas haviam participado da experiência.
— É superinteressante. Tu enxergas a lavoura de um ângulo que não enxerga do solo. Quando o drone está voando, vemos a imagem por uma tela, e com o voo, temos a visão do equipamento. Dá uma ideia maior do trabalho que é possível com ele — relatou Fernando, que já aderiu à tecnologia em sua propriedade.
— Fui criado lá fora (no interior de Soledade) e enxergar a natureza, a Campanha vista de cima, foi uma sensação bem legal, voltei para o campo — disse João Airton dos Reis, que também se aventurou no voo simulado.
Aproximar outros produtores de empresas que já desenvolvem tecnologias para o campo é um dos objetivos do Innovation RS, que pelo segundo ano marca presença no parque. O espaço foi remodelado para esta edição, colocando as startups à frente da casa da Febrac, como se estivessem na vitrine da feira. São 70 expositores neste ano, sendo 60 startups, que se revezam a cada dois dias nos estandes dispostos no local. Bruno Bastos, presidente da Associação Gaúcha de Startups (AGA) diz que o objetivo é encurtar o caminho para que a inovação seja realidade:
— O agronegócio é uma das nossas principais densidades e há muita oportunidade para explorar. Startup não é competidor e, sim, agente colaborativo para o campo.
Logo na entrada, os visitantes são recepcionados por um robô que interage e o já conhecido “cusco tech”, o cão robô que fez sucesso na Expointer do ano passado. O local tem espaço para as empresas apresentarem seus projetos e também estúdio de podcast. As participantes são startups em tempos de maturação diversos, que buscam na feira tanto investimentos quanto clientes para serem seus primeiros usuários.
O encontro do ecossistema de inovação é um dos trunfos da Expointer. Para a secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stülp, “não há mais como falar de agronegócio sem falar de inovação e tecnologia” e a feira agropecuária é o ambiente ideal para isso.
— Vemos o quanto o conhecimento é fundamental para os resultados da cadeia do agro. Portanto, são coisas indissociáveis. Até em pontos que num primeiro momento se pense que não há conexão, mas a inovação está em tudo. No melhoramento genético, nas biotecnologias, na nanotecnologia, na tecnologia da informação e no gerenciamento dos dados que se tem — destaca Simone.
A aproximação das iniciativas vem por meio de ações. Um edital de R$ 2,5 milhões foi lançado nesta segunda-feira (28) para fomentar projetos que serão executados nas oito regiões do Innova RS. Foram elencados temas prioritários no setor para a locação dos recursos num primeiro momento, entre eles a irrigação, a descarbonização, a eficiência e a agregação de valor e a transição energética.
Um segundo momento acontece nesta terça-feira (29), com o lançamento de centro de inteligência voltado a soluções no agronegócio. Na ocasião, que deve contar com a presença do governador Eduardo Leite, ocorrerá a assinatura do manifesto do Centro de Inteligência do Agro.