Indústria voltada para o agronegócio, a norueguesa Yara fez recentemente um investimento de R$ 2 bilhões na fábrica de Rio Grande e não descarta novos aportes no Rio Grande do Sul. Confira a entrevista com o vice-presidente de Inovação na Yara Américas, Cleiton Vargas. Ouça a íntegra no final da coluna.
O Rio Grande do Sul se insere na ambição da empresa pela economia verde?
Há alguns anos, a Yara vê a necessidade de descarbonizar e ter uma produção de alimentos que seja, como chamamos, neutra ao clima. Está se produzindo alimentos de forma que traz impacto e somos parte desta produção. Quando o agricultor aplica nosso fertilizante, a emissão que temos na nossa indústria é parte do processo produtivo daquele alimento que é consumido por alguém na sua residência. Estou falando muito de nitrogênio, o que mais contribui para gases de efeito estufa. De toda as emissões do mundo, a agricultura responde por mais ou menos 20%, dos quais 10% são do fertilizante. Metade está na fábrica e metade está na aplicação no campo. Olhando esse fluxo, como conseguimos melhorar? Temos que melhorar na produção e nas práticas de aplicação. Investimos em catalisadores e tecnologias nas nossas fábricas, como o investimento bilionário que fizemos em Rio Grande. Nós fechamos uma fábrica que, pela legislação brasileira, poderia continuar trabalhando, mas não pelos nossos padrões internos e europeus. De 2005 a 2019, reduzimos em 45% as emissões. Para chegar a zero emissões, temos que partir para a energia renovável. Precisamos mudar a fonte de energia para capturar o nitrogênio do ar. Hoje, a mais usada é o gás natural, que é fóssil.
Hidrogênio verde é opção?
No hidrogênio verde, tenho opções para descarbonizar. É mais caro e também precisa de muita energia renovável, mas há mercados dispostos a pagar. Recentemente, anunciamos uma parceria com uma empresa para produção no Paraguai, através de energia hidrelétrica. Aí, teremos fertilizantes que poderão ser chamados de verde. E vejo no biometano uma oportunidade muito grande para o nosso Estado. Temos muito material orgânico, que pode produzir biogás para converter em fertilizante. Em Cubatão (SP), vamos começar a produzir fertilizante através do gás originário do biometano, que vem da vinhaça, um resíduo da produção de etanol de cana de açúcar.
A Yara traria investimentos para o Estado atrás do biometano?
Precisamos de energia para tocar nossas fábricas. Na medida em que se tem produção de biometano, nós podemos usá-lo. Claro que não é simples e precisamos de muito apoio governamental.
Os investimentos bilionários da empresa aqui já "brilham o olho"...
Temos mais de R$ 15 bilhões de investimento no Brasil nos últimos anos, com a maior concentração no Rio Grande do Sul, nas unidades de Porto Alegre e Rio Grande. O Estado está muito bem localizado logisticamente como base de produção. Tem uma história. A primeira grande aquisição da Yara foi a de uma companhia gaúcha. O nitrogênio, como falei, está no ar. Então, faz muito sentido produzirmos aqui. Não faz sentido produzir nos Estados Unidos ou no Oriente Médio, colocar em um navio, transportar, distribuir e colocar em uma lavoura em Panambi. Posso pegar e fazer lá em Panambi. Do ponto de vista de tecnologia, a dificuldade ainda é tirar o nitrogênio do ar e transformar em amônia com baixa escala, em fábricas pequenas. Ainda não tenho um mercado verde grande, então tenho que usar gás natural para viabilizar.
Exige conscientização.
Por enquanto, o principal são esses investimentos que temos feito, esses no Paraguai e nos Estados Unidos. Vamos ter à disposição dos agricultores soluções de baixo carbono. Vamos ver a distribuição e estamos trabalhando com a indústria de alimentos para ver como colocar isso para a sociedade. Alguém vai ter que pagar esse primeiro prêmio de conscientização. Tem um custo, mas precisamos fazer isso. Estamos vivendo na pele. A enchente no Rio Grande do Sul foi um choque de realidade. As guerras, porém, concorrem com o investimento. O mundo todo estava colocando bilhões de dólares na descarbonização. Agora, dividimos esse dinheiro com a militarização, infelizmente.
Há oportunidade para o Brasil?
O Brasil tem terra, tem água. Temos produção de energia renovável. É uma fortaleza que outros lugares não têm. Na Europa, se você quiser energia, tem que colocar o painel solar do lado da fábrica. Não pode colocar onde tem sol e usar transmissão.
Assista aqui o painel que ocorreu na Expointer:
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Guilherme Jacques (guilherme.jacques@rdgaucha.com.br) e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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