
Verão é sinônimo de diversão, mas também é uma época para redobrar os cuidados com as crianças, que podem estar suscetíveis a acidentes domésticos. As principais causas de internação de crianças no Rio Grande do Sul são queimaduras e quedas, de acordo com um levantamento realizado pela ONG Aldeias Infantis SOS, com dados de 2023.
A médica emergencista intensivista pediátrica do Hospital de Pronto-Socorro de Porto Alegre, Ana Paula Pereira da Silva, explica que a curiosidade das crianças é uma das principais causas dos acidentes, por isso é necessário ampliar a supervisão.
— A criança, muitas vezes, nos surpreende. A gente acha que as coisas não vão acontecer, mas acontecem. Então, é necessário ter uma vigilância maior para prevenção — destaca.
A partir da sua experiência no HPS, Ana Paula notou um padrão: crianças de até um ano e meio, especialmente meninos, são aqueles que mais se acidentam.
Nos primeiros anos de vida, a principal causa de queimaduras ocorre por escaldamento com líquidos quentes. Já entre os maiores, a incidência mais recorrente é de contato com o fogo.
No caso das quedas graves, a maioria das vítimas são crianças na fase pré-escolar. Nessa época, a cabeça dos pequenos é proporcionalmente maior que o corpo, o que faz com que seja a primeira parte a bater em uma queda.
Prevenir antes de remediar
De acordo com a Aldeias Infantis SOS, 90% dos acidentes domésticos podem ser evitados, desde que as famílias realizem ações dentro de casa. Para a especialista em entornos seguros e protetores da ONG, Erika Tonelli, não se pode confundir prevenção com superproteção:
— Trabalhamos para uma mudança de paradigma e percepção da sociedade sobre o tema. Precisamos pensar nesse cuidado. Não é superproteger. É o adulto ter a ideia de que a criança precisa sim de um responsável que tenha as informações necessárias para antever esses acidentes.
Erika ainda destaca que é preciso romper a ideia de “sobrevivência” da infância, muitas vezes impulsionada por premissas como: “isso aconteceu comigo e eu estou aqui para contar a história”. Na sua visão, isso gera consequências e traumas que podem ser irreversíveis.
A médica intensivista Ana Paula detalha que, além dos danos físicos, os acidentes podem gerar sequelas emocionais, como transtorno do estresse pós-traumático e pesadelos:
— Essas situações podem trazer uma série de impactos para as famílias. No caso das queimaduras, pode ocorrer cicatrização inadequada, restrição de movimentos, além de transtornos mentais atribuídos ao acidente. Muitas crianças ficam agitadas e sonham que estão pegando fogo, por exemplo.
Dicas para evitar acidentes domésticos com crianças
Queimaduras:
- Controle a temperatura da água do banho dos bebês. Primeiro coloque a água fria e depois a quente
- Não deixe a criança sem supervisão na cozinha
- Posicione os cabos das panelas para dentro do fogão
- Evite ficar com a criança no colo enquanto tira ou coloca itens no microondas ou ingere líquidos quentes
- Tenha cuidado com líquidos e alimentos quentes em cima de mesas com toalhas, pois a criança pode puxar o tecido e derrubar os itens
- Tenha atenção especial com as chaleiras elétricas, porque a água é aquecida em uma temperatura muito alta. Coloque o utensílio em lugares em que a criança não possa derrubar ou puxar o fio
- Tenha cuidado na hora de acender o fogo do churrasco, para que as faíscas não atinjam a criança. Também é necessária atenção quando for acender lareiras ecológicas e mexer na chama do fondue
- Para evitar queimaduras elétricas, evite a presença de fios desencapados em áreas em que a criança tem acesso
Quedas:
- Supervisione a criança quando ela for subir ou descer escadas
- Proteger os vãos com telas é uma opção
- Sacadas e redes devem, preferencialmente, ser teladas
- No caso de bebês, tenha cuidado com os trocadores e berços. Como nos primeiros meses de vida as crianças se desenvolvem muito rápido, podem fazer coisas que antes não faziam, como rolar e engatinhar. Por isso, o ideal é não deixar a criança desacompanhada nesses espaços
- Para crianças maiores, oriente sobre o uso de equipamentos de proteção, como capacete, joelheiras e tornozeleiras, na hora de brincar com bicicletas, patinetes e skates
- No verão, supervisione as crianças enquanto elas utilizam as redes de descanso
- Em casas alugadas para a temporada, realize uma vistoria no dia da chegada, para identificar possíveis perigos
*Produção: Elisa Heinski