A guerra do juro travada pelos bancos para seduzirem clientes no financiamento imobiliário traz boas possibilidades para quem procura a casa própria, mas deve ser recebida com cautela. Nos últimos meses, a Caixa cortou taxas e apresentou novas possibilidades de empréstimo para a compra de imóveis, e bancos privados acompanharam trazendo novas facilidades. Nesta semana, o Santander anunciou o aumento do limite de 80% para 90% do valor que pode ser financiado — ou seja, o cliente poderá pagar apenas 10% do imóvel à vista e parcelar o restante em até 35 anos.
Conforme representantes da construção civil, os cortes no juro e as condições mais amistosas podem ser o empurrão que faltava para os negócios deslancharem no Estado. Desde o ano passado, os canteiros de obras voltaram a ser vistos em Porto Alegre e em cidades do Interior e as vendas se aceleraram. A projeção é de que ainda haja espaço para avançar.
De acordo com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), dados do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho apontam que no terceiro trimestre a produção do setor cresceu 2,2%, mantendo a recente sequência de bons resultados.
— A estabilidade econômica e a gradativa retomada do emprego ajudam a melhorar a confiança do consumidor para comprar a casa própria. Agora, com as reduções de juros e o aumento do percentual financiado, os negócios podem crescer em um ritmo mais acelerado, tanto para novos quanto para usados — avalia o vice-presidente do Sinduscon-RS, Rogério Raabe.
O dirigente considera sustentável a atual onda de facilidades, em razão de ser despida de euforia, e de as quedas do juro serem gradativas, acompanhando a Taxa Básica de Juros (Selic). Um avanço que Raabe considera importante é o lançamento de linhas que acompanham a inflação oficial (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA), no lugar da Taxa Referencial (TR).
— Essas condições aumentam a chance de uma pessoa comprar seu imóvel. O consumidor pode negociar com o banco conforme sua real possibilidade de pagamento — afirma Raabe.
Parcela pesada
Anderson Machado, presidente da Associação dos Mutuários e Moradores das Regiões Sul e Sudeste do país (AMMRS), concorda que a queda no juro e a ampliação do limite animam consumidores e irrigam o mercado. Entretanto, recomenda aos compradores que analisem com muita atenção as condições de negócio e façam um planejamento acurado antes de assinar o contrato.
— O cliente precisa estar ciente de que se pagar à vista apenas 10% do imóvel, em vez de 20%, sua parcela mensal irá subir. E, como são contratos de até 35 anos, é preciso prever o peso no orçamento — afirma Machado.
Como a economia ainda cresce em ritmo muito lento e os sintomas da crise — como o aperto na renda e o alto desemprego — permanecem, comprometer-se com um financiamento longo deve ser uma decisão muito bem pensada, diz Machado.
— É verdade que os juros estão bem baixos, o que torna os negócios mais interessantes. O consumidor precisa é se cercar de cuidado para saber que vai conseguir pagar a prestação, caso contrário corre o risco de ter o imóvel retomado pelo banco após três meses de inadimplência — afirma.
O juro e a cobertura do financiamento de imóveis nos principais bancos
Itaú-Unibanco
- Taxa mínima de juro para as linhas de crédito imobiliário a partir de 7,45% ao ano + Taxa Referencial (TR), variando de acordo com o perfil do cliente e do imóvel.
- Percentual de financiamento: até 82% do valor do bem.
- Tempo máximo de parcelamento: 360 meses.
Banco do Brasil
- Taxas a partir de 3,45% ao ano + IPCA ou 7,20% ao ano + TR, recentemente revisadas após as últimas quedas da Selic.
- O banco financia até 80% do valor de avaliação de imóveis residenciais e comerciais nas linhas do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e da Carteira Hipotecária.
Bradesco
- As taxas têm como banda mínima TR + 7,30 % ao ano.
- O limite de financiamento é de 80%.
- Pagamento em até 360 meses.
Santander
- Taxa mínima de juros pode chegar a 7,99% ao ano + TR.
- Passou a financiar até 90% do valor de imóveis residenciais na modalidade de parcelas atualizáveis (Sistema de Amortização Constante, o SAC).
- Os financiamentos são parceláveis em até 420 meses.
Banrisul
- No SFH, com imóvel com valor de avaliação de até R$ 1,5 milhão, a taxa de juro é a partir de 7,46% ao ano + TR.
- O percentual de financiamento é de até 80% do valor do imóvel, de acordo com a modalidade do financiamento.
Caixa Econômica Federal
- Taxa mínima de 6,5% ao ano + TR, ou de 2,95% + IPCA.
- O percentual de financiamento pode ser até 80%, podendo chegar a 90% quando se tratar de unidade vinculada a empreendimento financiado pelo banco.
- Prazo de pagamento de até 360 meses.
Planeje a compra de seu imóvel
- Quem pretende comprar por financiamento deve ter uma reserva (entre seis e 12 meses de salário) para esse tipo de operação financeira, para evitar que um eventual aperto nas contas leve à inadimplência.
- Imprevistos como doença, queda de renda ou desemprego devem ser levados em conta, ainda mais em um período de economia ainda em recuperação como o atual.
- Compare as taxas de diferentes bancos e não se deixe levar apenas pela sugestão da imobiliária.
- Evite assumir uma prestação que seja superior a 20% da renda familiar mensal.
- Tome cuidados ao assumir a parcela, pois quem não paga corre o risco até da perda do imóvel: a chamada retomada por parte da instituição financeira.
- Atenção à compra de imóvel na planta: a nova Lei do Distrato "pune" o mutuário que desiste do negócio, retendo até 50% do valor pago.
- Reúna a família e converse sobre o tema. Um ponto a ser levado em conta é o custo de vida da região onde se deseja morar, que pode ser mais alto do que o atual.