Desde que entrou no Big Brother Brasil 25, Giovanna Jacobina vem dando o que falar nas redes sociais. Porém, o assunto principal não tem sido o desempenho da irmã de Gracyanne Barbosa no jogo. O que vem chamando atenção é o "antes e depois" da sister, que teve o rosto transformado após a realização de uma cirurgia ortognática.
O procedimento consiste no reposicionamento das estruturas ósseas da região bucomaxilofacial. Durante a cirurgia, os ossos da face são fraturados e recolocados em uma nova posição, que é determinada previamente pelo cirurgião. A sustentação da nova base facial é feita por meio de placas metálicas, presas ao osso através de parafusos.
Apesar de chamar atenção pelos resultados estéticos, não se trata de uma cirurgia plástica, como explica o Chefe do Centro de Cirurgia Bucomaxilofacial da Santa Casa de Porto Alegre, Mauro Gomes Trein Leite:
— A cirurgia ortognática é um procedimento que visa, em primeiro lugar, a melhoria das funções. É feita quando o paciente não mastiga corretamente, não fala direito, não deglute os alimentos, não respira bem, entre outros problemas causados por alterações ósseas na face. Porém, quando se faz a movimentação para restabelecer as funções que estão comprometidas, ganha-se harmonia. As estruturas estarem posicionadas de maneira adequada faz com que a aparência fique mais bonita.
Em vídeo publicado em seu perfil no Instagram, Giovanna falou sobre sua experiência com o procedimento e relatou que sofria com dificuldades para dormir e se alimentar, além de dores de cabeça.
— Eu tinha todos esses sinais e eles melhoraram muito após a cirurgia — contou a participante do BBB 25. — Sou muito feliz com o resultado. Já o meu antes é pavoroso. Não fiquem postando que não gosto — disse Giovanna, que também realizou uma rinoplastia.
Na avaliação do cirurgião Thales Cousen, mestre em Medicina e especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela UFRGS, a irmã de Gracyanne Barbosa possuía um "quadro clássico" de indicação para a cirurgia ortognática, com mais de uma estrutura óssea visivelmente alterada, além de sintomas funcionais.
— Não tenho acesso ao caso dela, mas, pelas imagens, parece se tratar de mandíbula retraída e maxila projetada para baixo, o que evidencia o aspecto de "queixo para dentro" e o sorriso gengival. A abordagem padrão consiste em elevar a maxila, eliminando o sorriso gengival, e avançar a mandíbula e o mento — explica o profissional.
Como é feita a cirurgia ortognática?
O procedimento é realizado por dentistas especializados na área de cirurgia bucomaxilofacial, em ambiente hospitalar. A operação é considerada de médio a grande porte e costuma durar de cinco a seis horas. As intervenções são feitas através da cavidade bucal, de modo que não há cicatriz aparente. O paciente fica sob anestesia geral.
— Apesar de ser uma cirurgia grande, há tecnologias que nos ajudam a tornar o procedimento cada vez menos invasivo — observa o cirurgião Mauro Gomes Trein Leite.
Muitas vezes o tratamento inclui o uso de aparelho ortodôntico, que pode ser indicado antes ou depois da cirurgia, a depender do caso e da necessidade de realinhamento dos dentes.
Todo o planejamento de condutas é feito de forma anterior ao procedimento, conforme detalha o cirurgião Thales Cousen.
— Nenhuma decisão é tomada na sala de cirurgia. A partir dos exames e com o auxílio de programas de computador, projetamos todas as movimentações e conseguimos visualizar como o paciente ficará. Se estiver planejado mover o osso em 10 milímetros, essa será a movimentação feita, nem um milímetro a mais ou a menos — ressalta.
Se realizada de forma particular, a cirurgia ortognática pode custar em torno de R$ 50 mil, incluindo os honorários médicos, gastos com hospital e as terapias que completam o tratamento. Mas por ter caráter funcional, o procedimento é coberto pela maioria dos convênios médicos e também é realizado pelo SUS.
Entretanto, a cirurgia somente pode ser feita em pessoas com desenvolvimento ósseo completo — ou seja, quando a etapa do crescimento já está concluída. No geral, mulheres podem se submeter ao procedimento a partir de 16 anos, enquanto os homens devem esperar até os 18.
Ainda assim, nesta faixa etária, a realização está condicionada a uma análise individualizada, que considera fatores como a data da primeira menstruação, para as mulheres, e exames capazes de medir a curva de crescimento ósseo, como as radiografias de mão e punho.
Procedimento tem pós-operatório delicado
A cirurgia ortognática inclui riscos comuns a outras intervenções da região bucomaxilofacial, a exemplo da extração de sisos. De modo geral, há chance de desenvolver complicações como a parestesia — perda temporária de sensibilidade decorrente de lesão no nervo —, fibroses e infecção.
Já o pós-operatório costuma ser mais complexo, segundo o cirurgião Mauro Gomes Trein Leite. O período de maior cuidado ocorre nos primeiros 15 dias após o procedimento, quando a alimentação deve ser essencialmente líquida. Depois, é iniciada a dieta pastosa, com evolução gradual até o restabelecimento do hábito alimentar.
Em alguns casos, durante os dias iniciais de pós-operatório, são fixados elásticos na parte interna da boca, para limitar a abertura e preservar a posição dos ossos. Contudo, a recuperação não costuma ser dolorida.
— A dor não é uma queixa comum dos pacientes no pós-operatório da cirurgia ortognática — diz o cirurgião Mauro Gomes Trein Leite. — Como o osso fica sustentado por placas, não se torna dolorido. É a mesma lógica de uma fratura em outra região do corpo: quando tu fixas, para de doer. Há somente inchaço e desconforto normais de todo pós-operatório — detalha.
O pós-operatório inclui sessões de fisioterapia, que podem envolver exercícios de movimento, drenagens, aplicação de tapping (espécie de bandagem que ajuda a reduzir o edema e diminui o risco de fibroses), laserterapia, crioterapia e outras condutas. Como a base óssea da face é transformada com a cirurgia, torna-se necessário adaptar as funções à nova posição — aprender a mastigar com a nova configuração da arcada dentária, por exemplo.
Em alguns casos, o protocolo pode incluir também psicoterapia, como explica o cirurgião Thales Cousen:
— Há casos em que o paciente se sente mais bonito após a cirurgia, mas por conta da grande transformação, tem dificuldade de se reconhecer. Se prevemos uma cirurgia muito extensa, em que o paciente terá uma mudança estética muito considerável, é interessante já combinar o acompanhamento psicológico.
Cirurgia tem grande impacto na autoestima
O profissional destaca os impactos da cirurgia ortognática na autoestima dos pacientes. Conforme o cirurgião, atualmente, o principal fator que leva à procura pelo procedimento é a estética.
— O que mais ouço são histórias de pacientes que não se relacionam, não tiram fotos, sentem vergonha de estar em situações sociais. Há um impacto enorme na autoestima das pessoas. Em muitos casos, após realizar a ortognática, o paciente muda completamente a sua vida para melhor — observa Cousen.
— Por isso falamos que até mesmo o apelo estético do procedimento tem caráter funcional. Se a pessoa tem uma alteração estética que a impede de viver a sua vida normalmente, isso também é uma questão de saúde — enfatiza.
Ainda assim, a cirurgia ortognática não deve ser realizada para tratar questões estéticas pontuais. Não é indicada a quem somente deseja ganhar mais contornos ou aumentar minimamente a projeção do queixo, a exemplo do que ocorre nas harmonizações faciais.
— Quem pensa em fazer a cirurgia ortognática precisa ter em mente que ela vem acompanhada de todo o desconforto e de todos os cuidados que envolvem um procedimento cirúrgico. Pode trazer inúmeros benefícios, mas nunca deve ser feita por modismo — orienta Cousen.