Nasci e cresci em uma família que come o prato principal pensando na sobremesa. Herdei esse comportamento, e isso sempre me garantiu uns quilos a mais. Mas me rendeu também uma felicidade acima da média. Porém, ultimamente tenho notado um descaso de restaurantes com a sobremesa.
Renomados restaurantes dedicam energia aos pratos salgados de entrada e principal e acabam não entregando no mesmo nível o grand finale. Um pecado, justamente por ser esse o sabor que ficará presente ao final da refeição. Tem sido comum deparar com combinações ousadas nos pratos principais de bistrôs e terminar com uma frustrante sobremesa.
Algumas sobremesas que eu adoro inundaram os menus Brasil afora. O petit gateau é um exemplo. Lugares que não tem nada a ver com a culinária francesa apresentam esse como o grande prato. Nos anos recentes, colocar a deliciosa Nutella em tudo virou a mais nova mania.
Para restaurantes italianos, parece que o sagu é a única sobremesa do mundo. Me frustro por ver tanto sagu sem graça em buffets desse país. O tiramissú é outro que já está ficando mal falado por tantas versões sem brilho. Seria tão bom encontrar outras delícias, como o cannoli.
Alguns lugares culpam a crise e dizem que os consumidores têm evitado a etapa final para não gastar. Desculpem-me, mas quem tem o perfil de formiguinha não se mixa para gastar um pouco a mais na conta. Para mim, o maior vilão da sobremesa é a dieta. A busca do equilíbrio, de fato, é algo a ser considerado. No entanto, sou contra os extremismos de quem tira o doce de vez da sua vida. Essas pessoas ficam mais amargas e infelizes, não importa o quanto estejam pesando. E sou daqueles que fica ofendido quando me oferecem fruta como sobremesa. Fruta não é sobremesa.
Quem sabe cozinhar diz que é mais difícil preparar doces do que salgados, porque é necessário seguir à risca as quantidades e etapas das receitas. Acredito que o que está faltando é criatividade e investimento em qualidade. Os grandes chefs e cozinheiros são aqueles que fazem salgados e doces no mesmo nível. E esses são cada vez mais raros de encontrar por aí.
* Conteúdo produzido por Diego Fabris