Todo mundo precisa de férias. E, neste ano, tive a oportunidade de conhecer a cosmopolita New York City. Entre a média de 16 quilômetros por dia caminhando na cidade que não dorme, eventualmente me sentindo dentro de um filme (seja de super-herói ou de comédia romântica), nem nos meus melhores roteiros eu poderia imaginar que visitaria uma vinícola localizada de frente para a famosa Estátua da Liberdade.
Como enóloga, independentemente da viagem que estou fazendo, sempre encontro um tempo para degustar um vinho — nesses casos, os rótulos locais são sempre o meu foco. Claro que não seria diferente durante os dias que passei na cidade norte-americana. O Estado de Nova York é o segundo maior produtor de vinho dos Estados Unidos, ficando atrás apenas da Califórnia.
Por outro lado, grande parte das vinícolas desta região tem menos de 20 anos de existência. Long Island, a área mais recente, conta com solos glaciais onde são produzidas as uvas chardonnay, merlot e cabernet. Dentro da área vitícola, ainda podemos considerar a região do Rio Hudson, a primeira com registro de vindima, mas ainda com bastante uvas americanas e híbridas, e a região dos Finger Lakes, ao norte do Estado. Finger Lakes são lagos estreitos formados por geleiras, em local de invernos muito longos e rigorosos, onde as temperaturas podem ser negativas.
Confesso que os vinhos dessa região sempre me despertaram curiosidade. Foi então que tive a oportunidade de ir à caça ao tesouro, pois havia provado poucos exemplares da região. Demorei para encontrá-los, nova-iorquinos têm paladar europeu, então, conforme o estabelecimento, é até mais fácil encontrar vinho italiano do que local. Por incrível que pareça.
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Lugares que visitei
No primeiro winebar de Manhattan, tive a grata surpresa de ter um Riesling 2023, semi dry, com um pouco de açúcar residual para equilibrar a acidez bem marcante. Era muito agradável e convidativo para o próximo gole.
Mesmo com a temperatura de -12ºC externa, um rótulo branco foi a escolha para começar a conhecer o local. No final de semana, encontrei minha amiga e também enóloga Marcela, que mora por lá, e fomos conhecer a Red Hook, vinícola urbana que fica na cidade de Nova York.
O conceito de vinícola urbana surgiu na década de 1980, na Califórnia, na qual a propriedade tem como característica a distância dos vinhedos, mas a vinificação ocorre na metrópole. No caso da Red Hook, a produção das vinhas fica nos Finger Lakes, e as uvas viajam cerca de três horas até chegarem por lá. A elaboração do vinho ocorre ali, de frente para a Estátua da Liberdade, em um pavilhão de tijolo à vista bem característico.
Novamente em temperatura externa negativa, entramos na vinícola, nos aquecemos e fomos para a sala de barricas degustar os produtos ainda em elaboração. A vinícola é bem recente, tem apenas oito anos, tem três enólogos, que, a partir da uva, decidem o que será feito.
Atuam tanto com fermentação espontânea como com o uso de leveduras. Filosofias que se somam e entregam o melhor na taça. Destaque para o chardonnay, com passagem por madeira, e para o merlot também com barrica.
Finger Lakes entregou o que fui buscar: frescor, acidez marcante, enologia moderna, extraindo o melhor da matéria-prima. Talvez esse tenha sido o maior ensinamento de uma vinícola urbana cosmopolita: a mistura de filosofias, a mínima intervenção com práticas enológicas, o fermentar espontâneo com assepsia e bacteriostático. O clássico com o moderno, a ciência aliada na busca do melhor vinho, sem um ser melhor do que o outro, assim como é a cidade que mistura todas as etnias, línguas e luzes. A acidez vibrante pulsa como NYC — foi um prazer te conhecer!
![Natália Frighetto / Especial Natália Frighetto / Especial](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/0/4/8/0/4/1/5_a5518c17f2b25e2/5140840_1fbac7c65c83c10.jpg?w=700)