
"Não me convidaram pra essa festa pobre..." O vozeirão de Gal Costa (1945-2022) remete os telespectadores — mesmo os que não assistiram à primeira versão — a Vale Tudo.
A trama de Aguinaldo Silva, Gilberto Braga (1945-2021) e Leonor Bassères (1926-2004) é um marco na teledramaturgia brasileira e sacudiu o Brasil em 1988.
De norte a sul do país, todos queriam saber quem matou Odete Roitman (Beatriz Segall, 1926-2018), se Raquel (Regina Duarte) teria um final feliz e qual seria o castigo de Maria de Fátima (Gloria Pires).
Vale Tudo é "a novela das novelas"
Não à toa, Vale Tudo é considerada por muitos, "a novela das novelas" e, 37 anos depois da trama original, volta à telinha, adaptada por Manuela Dias e com direção de Paulo Silvestrini.
Seja pela nostalgia de quem assistiu ou pela curiosidade de conhecer essa história, o público vibrou nas redes sociais desde as primeiras chamadas da novela.
— As histórias são vivas, iguais às pessoas. Quem não viu é uma chance atualizada com esse cheiro vintage, que a gente foi compondo, e para quem viu é que nem encontrar um amigo que você não vê há muito tempo — destacou Manuela Dias na coletiva de apresentação da novela para a imprensa. Segundo ela, a estimativa é de que 40% dos telespectadores já tiveram contato com a versão de 1988, seja pela exibição na época, seja pelo Globoplay.
Paulo Silvestrini reforça:
— Para o fã, a essência da obra está preservada, os personagens e as tramas estão ali. Para quem não conhece, acho uma boa oportunidade para entrar em contato com um gênero tão caro para nós.
Expectativa em Vale Tudo

E se, para o público, a expectativa é grande, para o elenco a sensação é inexplicável. A emoção e o brilho no olhar de atores e atrizes que fazem parte do remake transborda, e cada um tem sua história de bastidores sobre a escalação.
Uma das mais curiosas é a de Taís Araujo, que dará vida a Raquel. Após interpretar várias mocinhas nos últimos anos, a atriz pediu a José Luiz Villamarim, diretor de dramaturgia da Globo, para fazer uma vilã. A resposta foi o convite para ser a grande heroína de Vale Tudo, o qual ela declinou na hora. Porém, ao chegar em casa, Taís decidiu assistir ao primeiro capítulo da novela no Globoplay, e tudo mudou.
— Vi a novela e pensei: "Meu Deus, não posso perder essa oportunidade". É uma personagem muito bem escrita. Posso dizer que é uma mocinha perfeita. Liguei para Manuela (Dias, autora) e disse que tinha sido muito burra, porque aceitava fazer, sim.
Cobrança
Alheia às críticas por sua escalação para ser a nova Maria de Fátima, Bella Campos se mostra preparada para o desafio:
— Como era uma personagem bastante complexa, eu quis estudar ela bem profundamente antes de ir fazer o teste. E, fora isso, é muita troca com a direção o tempo todo, tanto Paulo Silvestrini como todos os outros diretores que estão dia a dia com a gente. E com a Manu também, para entender qual era o caminho que ela estava buscando. Então, é uma dedicação do tamanho que a personagem exige que seja.
A principal diferença entre a trama de 1988 e a de 2025 é a escalação de atrizes negras para os papéis principais, além de um elenco muito mais diverso. Manuela defende a importância disso, afinal, o mundo mudou nos últimos 37 anos e essa atualização é mais do que necessária.
— Naquela época, só tinha dois atores pretos na novela. Naquele momento, o nosso olhar era tão deformado pelo racismo estrutural... Eu acho que a Raquel sempre foi preta. Ela era branca pela nossa incapacidade social de dar o protagonismo para outra atriz preta.
Bella Campos explica que até mesmo a relação de Maria de Fátima com Odete Roitman (Debora Bloch) ganha outro viés, sem deixar de mostrar o preconceito da grande vilã.
— A Maria de Fátima está ali dispor da Odete, a serviço dela. Então, acho que vai ser muito importante a gente poder debater o racismo a partir desse ponto.
Vilania

E por falar na matriarca dos Roitman, Debora Bloch começou a gravar suas primeiras cenas há pouco tempo, já que a vilã só entra em cena no capítulo 24. Mas a atriz já tem uma percepção formada a respeito da clássica personagem:
— Ela é um retrato de uma classe que despreza o Brasil e, ao mesmo tempo, se beneficia dele, suga as suas riquezas. É muito interessante e, infelizmente, muito atual. Esse pensamento ainda está atual, essa maneira de se comportar, de atuar na sociedade.

Quem lê pela mesma cartilha de Odete Roitman é Marco Aurélio, que desta vez será defendido por Alexandre Nero (na versão original, o papel coube a Reginaldo Faria).
— O Marco Aurélio, até agora, para mim, é o herói da novela, não tô achando ele vilão em nada — brincou Nero, arrancando risadas dos colegas de elenco. Apesar de ser indefensável, o personagem tem em seu intérprete um ótimo advogado de defesa.
— Eu estou defendendo o Marco Aurélio em todas as instâncias. É um cara que, obviamente, não tem o filtro social, ele é um cara fora da civilização, ele não é civilizacional, ele não sabe sabe sentar na mesa e conversar com alguém de uma maneira civilizada — ressalta Nero, completando:
— Está muito claro que obviamente é um cara arrogante, grosseiro, que todo mundo foge e tem medo, mas no fundo, ele tem certas razões e as pessoas vão ver isso na novela.

A principal rixa de Marco Aurélio será com a ex-mulher, Heleninha (Paolla Oliveira), pela atenção do filho Tiago (Pedro Waddington). A filha de Odete perdeu a guarda do garoto por conta de seu vício em álcool.
Paolla não esconde a alegria de estar interpretando uma personagem com tantas nuances. Ela conta que recebeu a benção de Renata Sorrah, a Heleninha da primeira versão, e que as duas tiveram um encontro emocionante. Na preparação para o papel, Paolla frequentou reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA) e assistiu a algumas cenas da trama de 1988, além de ler bastante sobre o assunto.
— É uma grande personagem, para além do do problema que ela tem, de ser alcoólatra. Uma mulher tentando viver nas brechas dessa doença. O alcoolismo é um tema importante, mas, qual é a batalha travada por uma mulher que existe para além dessa doença?
A julgar pela animação da equipe, Vale Tudo já (re)nasce um sucesso. Mas o que todo mundo quer saber é: as cenas clássicas estarão presentes no remake?
— Teremos cenas icônicas: rasgação de vestido, chegada de Odete... — garante Manuela Dias.