Fazendo um retrato atual do Brasil sob o pano de fundo histórico da Inconfidência Mineira, Liberdade, liberdade (RBS TV) termina na próxima quinta como uma trama ousada que sobrepôs a qualidade sobre o apelo de índices de audiência. Sem abrirem mão de contar sua história, o autor Mário Teixeira e o diretor Vinicius Coimbra bancaram cenas que marcaram a teledramaturgia e tocaram em temas delicados nesse momento político nacional.
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Se a cena de sexo entre dois homens, protagonizada por Caio Blat e Ricardo Pereira, foi a mais comentada e polêmica – até por ter sido a primeira exibida na Globo –, muitas outras foram tão tocantes. Quem acompanhou a novela pôde conhecer Joaquina (Andreia Horta) e ver uma mulher muito à frente de seu tempo, com ideais de igualdade de gênero, raça e social. Uma das sequências mais emocionantes foi aquela em que a jovem alforriou os escravos da família.
Falando do Brasil antigo, Teixeira tocou em pontos como corrupção, violência, machismo e racismo. Nada mais atual, principalmente nesse momento em que uma onda conservadora ganha força. A novela fez pensar e não subestimou a inteligência do público.
Além do roteiro, a caracterização dos personagens, o cenário e a fotografia foram elementos essenciais ao bom desempenho da trama. Coimbra optou pela pouca maquiagem e as atrizes mantiveram pelos pelo corpo, como era costume à época – no século 19. Pequenos detalhes que fizeram a diferença. Tudo isso somado à segurança de um elenco afinado, com destaque para, além de Andreia, Lília Cabral (Virgínia), Maitê Proença (Dionísia), Marco Ricca (Mão de Luva), Mateus Solano (Rubião) e Nathalia Dill (Branca).
Liberdade, liberdade é mais uma prova de que a faixa das 23h é um dos maiores acertos da Globo, permitindo aos autores tocar em temas polêmicos com tranquilidade – como também ocorreu com O Rebu (2014) e Verdades Secretas (2015) –, e tramas sendo bem aceitas pelo público.