
Um gigante de concreto destaca-se na paisagem de Noiva do Mar, balneário pertencente a Xangri-lá, no Litoral Norte. Trata-se do icônico Hotel Redondo, que durante o seu auge chegou a hospedar craques do futebol como Paulo Roberto Falcão, e astros da música como Wilson Simonal e Felipe Dylon, além da banda Charlie Brown Jr. Com formato semirredondo, o local está desocupado desde 2021.
Construído em 1977 e oficialmente batizado de Noimar Hotel, passou a ser chamado de Hotel Redondo em razão de sua arquitetura. Porém, conta apenas com a fachada e as extremidades com formas arredondadas. A parte dos fundos, voltada para o mar, possui linha reta.
O imóvel tem quatro pavimentos, ocupa um terreno de área total de 4,1 mil metros quadrados e chegou a contar com 33 quartos. Fica a apenas 200 metros de distância do mar.
Antigamente, durante a temporada, os veranistas buscavam marmitas no restaurante para levar para casa. Um cassino funcionou por certo período de forma discreta em suas dependências. Políticos do Estado estavam entre os principais frequentadores.
Um dos proprietários do antigo empreendimento, Mario Guilherme Sebben, 76 anos, diz que o loteamento na região começou em 1954, mas o projeto ficou parado. Apenas 20 anos mais tarde os familiares retomaram o plano de construção do espaço.
— A minha mãe (Clarice Maria Peccin Sebben) vem de uma família de hoteleiros em Caxias do Sul. O meu pai (Mário Ângelo Sebben) conheceu a minha mãe lá, em um hotel. Então, o meu pai também foi hoteleiro e sempre teve ambição de criar um hotel aqui em Noiva do Mar — contextualiza o filho.
Os pais dele decidiram morar em Noiva do Mar, estando entre os primeiros habitantes do balneário, que, na época, pertencia a Osório. O hotel foi erguido em etapas e possuía uma fonte de água na frente e outra, com peixes, no segundo pavimento, onde havia um jardim inglês à disposição dos hóspedes. As duas ornamentações ainda podem ser vistas no local.
No segundo piso ficavam 12 quartos, enquanto no terceiro havia outros 21 apartamentos. Posteriormente, foi aberto um ambiente para festas e criado um terraço com vista para a praia. Havia duas piscinas nos fundos do hotel, uma maior e outra menor.
Caso de polícia
Em 30 de janeiro de 1986, a história do cassino ganhou as páginas policiais. A Delegacia de Polícia de Capão de Canoa encontrou equipamentos de jogo no local e apreendeu roletas, mesas e fichas. Foi divulgado na época que os jogadores vinham de São Paulo e do Vale do Sinos para fazer apostas.
Sebben confirma que funcionou por algum tempo no local um cassino.
— Teve um pessoal que explorava cassinos que alugou o hotel para oferecer. Funcionou por um tempo até que fecharam — recorda o empresário, que administra uma imobiliária.
O Hotel Redondo era aberto em 20 de dezembro e fechava logo após o carnaval. O restante do ano permanecia fechado e, conforme Sebben, jamais deu lucro. A equipe era formada por cerca de 12 funcionários.
A comida italiana era apreciada pelos hóspedes e ocorriam festas de Natal e de virada de ano no local. Músicos que tinham shows agendados no Litoral Norte se hospedavam ali, assim como os integrantes dos times de futebol dos campeonatos interpraias.
No ano 2000, o hotel passou por obras estruturais. Foi quando ganhou dois novos pavimentos, alojamento para funcionários, uma área de lazer com piscina, cancha de bocha, vôlei e um quiosque com churrasqueira.
A gente não tem pretensão nenhuma (de reabrir o hotel). Isso exige muito investimento para um negócio que não tem renda.
MARIO GUILHERME SEBBEN
Um dos proprietários do empreendimento
Aos poucos, o movimento de hóspedes foi diminuindo até o ponto de ser preciso fechar o hotel, que chegou a ser administrado por ecônomos e pela própria família Sebben.
Como está hoje
Em 2017, o empreendimento foi vendido para uma escola. O plano era oferecer ensino público em parceria com a prefeitura de Xangri-lá. Mas não deu certo e, em 2020, a família entrou na justiça para reaver o prédio.
— A ideia de fazer uma escola ali eu achava fantástica como continuo achando. Daria para fazer um centro de saúde ou uma subprefeitura, mas as pessoas da escola promoveram algumas reformas, desmancharam paredes e fizeram salas de aula. Mas não recebemos as prestações e pedimos o prédio de volta — explica Sebben, dizendo que a prefeitura também não firmou parceria com a instituição de ensino como esperado.
Com a alteração da estrutura, incluindo a destruição da cozinha, o imóvel ficou descaracterizado na parte interna. Não teria condições de ser aproveitado novamente como hotel. Atualmente, os muros do entorno apresentam rachaduras e risco de queda em alguns pontos. Dentro do imóvel, o cenário ainda exibe cupins e muita poeira. Faltam portas, marcos e janelas.
A reportagem de Zero Hora teve acesso a todos os espaços internos. No térreo, é possível ver um antigo cofre e a planta com os números dos quartos na sala junto ao balcão da recepção. Também há molhos de chaves numa gaveta. As câmaras frias tinham duas portas robustas, que hoje estão abertas. Nesse pavimento ficava a cozinha.
No piso superior, há quartos com portas, algumas sem os marcos; tomadas elétricas espalhadas pelos cantos, ventiladores de teto e suportes para aparelhos de televisão. E há o jardim de inverno. Neste ponto está uma antiga fonte d'água. Grandes vasos azuis a circundam. Trata-se de uma das áreas mais belas do hotel ainda hoje.
Os móveis que restaram do período hoteleiro no terceiro pavimento estão abrigados em alguns quartos. São objetos como cadeiras, mesas, antigos extintores de incêndio, pratos, talheres e até fichas de cadastro dos hóspedes.
Uma escada do jardim inglês conduz até o último pavimento, onde fica o terraço. A vista para a praia é o destaque desse espaço, sendo que o salão apresenta danos após anos sem uso. Lá havia ainda banheiro, pia e churrasqueira. De acordo com Sebben, o telhado chegou a ser reforçado.
No pátio dos fundos, a grama está alta. A piscina foi colocada de cabeça para baixo em um canto, enquanto o quiosque ainda ocupa parte do terreno.
— Esse hotel precisaria de uma renovação total e um investimento grande. Não tem mercado para hotel aqui, só na hora do veraneio — pensa.
Na avaliação de Sebben, hoje, o preço estimado para uma possível venda ficaria em torno de R$ 12 milhões.
— A gente não tem pretensão nenhuma (de reabrir o hotel). Isso exige muito investimento para um negócio que não tem renda — observa, citando que festas de aniversário da família eram realizadas no imóvel.
Poucos veranistas
Em Rainha do Mar, a antiga colônia de férias do Banrisul foi demolida em 2022 para dar lugar a um novo empreendimento. No balneário vizinho, a estrutura do Hotel Redondo permanece à espera de seu destino.
— Se o prédio do Banrisul com clientela cativa não conseguiu resistir, um que não tenha não consegue economicamente se sustentar. Tenho a impressão que um dia teremos um empreendimento nosso ou para quem a gente venda. Tomara que seja possível se preservar a fachada do antigo hotel — conclui Sebben.
A prefeitura de Xangri-lá disse que, neste momento, não tem planos para ocupar o imóvel em Noiva do Mar.
O que havia no hotel:
Térreo/1º pavimento:
- Recepção com balcões em mármore e detalhes em gesso
- Restaurante com cozinha
- Despensa
- Duas câmaras frias
- Copa, com capacidade para abrigar 300 pessoas no horário das refeições
- Salão auxiliar, que dava acesso ao pátio e aos banheiros
2º pavimento:
- 12 apartamentos (com capacidade para 43 pessoas), todos com chuveiros elétricos
- Jardim de inverno com uma fonte d'água com peixes
- Hall
- Rouparia
3º pavimento:
- 21 apartamentos (capacidade para 46 pessoas), todos com chuveiros com aquecimento solar
- Rouparia
4º pavimento:
- Terraço com vista para o mar
- Salão de festas/dança, com churrasqueira e banheiro
Pátio:
- Alojamento dos funcionários
- Lavanderia
- Área de lazer e esportiva, composta por quiosque, duas piscinas (uma adulta e outra infantil), cancha de bocha, quadra de vôlei e recreação.