
Definido como uma expressão artística e cultural, o artesanato sempre manteve um vínculo com a tradição e a ancestralidade dos povos. Contudo, nas últimas décadas essa atividade tem dialogado mais com a moda e o design contemporâneo.
No Estado, de acordo com o Programa Gaúcho de Artesanato (PGA/FGTAS), são 103 mil artesãos e artesãs cadastrados. Na Serra, produtos com esse toque do feito à mão vem conquistando mais espaço e projeção.
Um desses casos é o de Vanessa Lazzari, 34 anos, que atua com itens decorativos de alto padrão, inspirados na natureza. São esculturas em forma de plantas, produzidas com materiais como tecido e corda náutica.
Atualmente, os produtos do Vanessa Lazzari Estúdio Criativo, de Garibaldi, podem ser vistos pelo Brasil todo, inclusive pela televisão, em programas da Globo como o Mais Você, da Ana Maria Braga, em 2022, e nas edições do Big Brother Brasil (BBB), entre 2022 e 2024.
Toda essa história começou em 2020, quando a empreendedora tentava decorar a própria casa com plantas reais, o que não deu muito certo.
— Eu fiz várias tentativas de querer ter aquele urban jungle, só que foram frustradas. Tentei trazer uma, duas, três vezes... Nessa de reorganizar as coisas da casa pensei: “por que não faço então umas flores, umas plantas para eu deixar mais bonita a minha casa?” — recorda a artesã.
No ateliê da mãe, Vanessa aprendeu a costurar e criou a primeira peça para decorar sua casa. Logo, a empreendedora, que até então trabalhava em uma loja de móveis, viu uma nova oportunidade surgindo no horizonte.
Em 2025, a empresa celebra cinco anos com quatro colaboradoras e um espaço próprio. Para Vanessa, além do negócio, o artesanato trouxe a ela “um lado artista”:
— Eu sempre gostei da decoração da casa. Mas, nem conhecia esse meu lado artista, de criar. Não era algo que eu tinha em mim. E realmente, essa criatividade foi despertada nesse período que eu estava em casa.
O estúdio trabalha com uma linha de peças que são personalizáveis, e também há projetos autorais, criados a partir de pedidos de clientes.
Peças elogiadas por Ana Castela
Atuando com bordado, atividade que divide com o trabalho em uma agência de marketing, Andressa Carolina Grolli tem recebido encomendas para produtos como camisetas e ecobags.
— São peças mais versáteis. Quem procura alguma coisa personalizada, geralmente está querendo algo mais específico. Uma camiseta, por exemplo, é uma maneira de transmitir uma mensagem ou de fazer algo que tu não encontras em qualquer loja — explica Andressa, 32 anos, proprietária do 2305 Lab, de Carlos Barbosa.
Formada em moda, ela borda desde 2017, quando fez um curso em Porto Alegre. No início era um hobby. Mas, em 2021, durante a pandemia, decidiu criar um perfil no Instagram para comercializar suas peças. A ideia surgiu ao aliar o artesanato com outro gosto que surgiu na época, o K-Pop, a música pop coreana.
Além de camisetas e ecobags, Andressa já bordou tênis, enfeites para quadros, porta-retratos, entre outros itens. No ano passado, com uma ajudinha da cantora Ana Castela, que compartilhou os produtos da 2305 Lab nas redes sociais, viu aumentar o interesse pela sua marca.
Toda essa repercussão começou com uma cliente que comprou um moletom, uma camiseta e uma ecobag para presentear a Boiadeira.
— Um tempo depois, a cliente me mandou um print de um vídeo da Ana Castela usando uma das peças e eu olhei e disse: “caramba é muito aleatório!”, mas ao mesmo tempo é muito legal — orgulha-se.
Pesquisa e diversificação
A ligação de Taís Silva, 38, com o artesanato vem da paixão pela arte, cultivada desde a infância. No entanto, o maior interesse pela criação de peças ocorreu a partir do Natal de 2017.
Taís decidiu produzir os enfeites para sua árvore de Natal e, na busca por moldes na internet, conheceu a técnica de papelaria chamada de quilling (filigrana de papel). A partir daí, buscou cursos para se especializar, iniciando um negócio voltado ao público infantil.
— Eu comecei a migrar para a papelaria decorativa, fazendo peças para festinha infantil — conta Taís.
No fim de 2019, a empreendedora abriu a Dindecora, com foco no ramo de festas. Logo depois, porém, com a pandemia, Taís precisou diversificar os produtos e buscou mais técnicas para se fortalecer no mercado.
— Nessas buscas fui vendo outras opções e outras técnicas. Encontrei produtos que mesclavam acrílico com madeira, por exemplo. Chamou minha atenção e fui me aprimorando.
Da gastronomia para a cerâmica
No distrito de Ana Rech, em Caxias do Sul, uma conversa trivial em família despertou Bruna Perin para que entrasse no mundo do artesanato.
— Meu sogro estava com oitenta e poucos anos e éramos muito parceiros. Ele me disse: “Bruna, vamos fazer alguma coisa porque eu não aguento mais ficar em casa, eu quero fazer aula de pintura ou algo assim”. E eu respondi, quem sabe a gente faça cerâmica, porque a minha sogra, a dona Jucelda tinha sido ceramista — relembra Bruna, 36, formada em Gastronomia e há seis anos estudando cerâmica.
Um pouco antes de iniciar as aulas, no entanto, Fedrizzi foi hospitalizado, mas pediu à nora que participasse do curso. Ele morreu em 2020, mas Bruna seguiu estudando. Apaixonou-então se pela prática e acabou abrindo a empresa Aldeia Infinita Cerâmica.
As primeiras peças comercializadas foram encomendas do bar da Hospedaria Rio do Vento, no interior de Caxias, também administrada pela família. Ao mesmo tempo, na pandemia, Bruna passou a ser procurada por pessoas com interesse em aprender a criar louças em cerâmica, abrindo uma nova janela de oportunidades.
Atualmente, Bruna atende a pedidos e também tem as criações em catálogo próprio. São restaurantes da Serra e de outras regiões, como Santa Catarina.