Contar histórias está na alma de Jayme Monjardim. Apaixonado pelo Rio Grande do Sul, o diretor escolheu a Serra gaúcha para ambientar "Tempo de Amar", próxima novela das 18h da Globo, que substituirá "Novo Mundo" a partir de setembro. Há cerca de duas semanas, ele esteve na região em busca de lugares que poderão servir de cenário para o folhetim escrito por Alcides Nogueira que se passa nas décadas de 1920 e 1930 em Portugal e no Rio de Janeiro e terá como protagonista a atriz gaúcha Vitória Strada.
– Como a novela é de época, o Rio Grande do Sul tem uma coisa muito importante que é o senso de preservação. Tem locações incríveis perto de Garibaldi – disse em entrevista ao Pioneiro.
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Monjardim falou ainda sobre cinema – seu novo filme, O Avental Rosa, tem estreia prevista para agosto – e vinhos. Em 2015, ele entrou para o universo de produtores da bebida com o Villa Matarazzo, um corte de 75% de touriga nacional e o restante de outras cepas de vinhas velhas elaborado por um pequeno produtor português. O projeto é resultado de uma parceria entre o diretor e a enóloga garibaldense Maria Amélia Duarte Flores, de quem Monjardim se aproximou em 2013 no lançamento do filme O Tempo e o Vento.
Confira os principais trechos da entrevista.
O que te inspira?
A própria vida, não tem como ser diferente. Vivendo, olhando e aprendendo é exatamente onde a gente colhe toda inspiração para os trabalhos que faz. A vida é o grande segredo para tudo.Que tipo de trabalho te dá prazer?Sou um contador de histórias. Toda história me dá prazer porque faz parte da minha alma, da minha essência.
Qual o barato de fazer TV? E cinema?
O cinema é mais artesanal, mais pessoal. A TV tem uma grande dosagem comercial. A gente tem de estar atento a coisas importantes, como audiência e uma série de coisas.
Por que gravar na Serra?
Sempre tive muito prazer em trabalhar no Rio Grande do Sul. Tem cenários incríveis, uma luz maravilhosa e equipes fantásticas. Normalmente não levo ninguém aqui do Rio de Janeiro, a não ser os cabeças, que são os criadores. A equipe mesmo a gente pega toda no Rio Grande do Sul. Tem grandes profissionais. Tenho verdadeira paixão por trabalhar aí no Sul.
Haverá locações em outros lugares?
Para o que a gente está procurando, que são vinícolas antigas, aquele clima mais ou menos dos anos 1920, casas antigas e tudo, o Rio Grande do Sul é perfeito, principalmente essa região de Garibaldi. Para essa novela, a gente só vai trabalhar essa região da Serra.
Como as novelas podem competir com outras plataformas?
Novela é um produto altamente brasileiro. Também é produzida no México e em outros países latinos, mas a novela brasileira tem uma qualidade profundamente superior. Ela é preferida por ser um produto muito nobre, muito bem feito, sempre usando um elenco poderoso, o que a gente tem de melhor. Acredito que, brevemente, tanto a Netflix quanto as outras plataformas irão iniciar a produção de suas novelas. Acho impossível que isso não aconteça, ainda mais num mercado como o do Brasil, onde a novela é o principal produto de venda, é onde se sustenta uma emissora. Qualquer produtor de conteúdo, qualquer pessoa que pense em fazer conteúdo, com certeza terá de fazer novelas. Não tenho dúvida nenhuma que o próximo grande produtor de novelas seja uma Netflix.
A vida imita as novelas ou é o contrário?
A novela é consolidada já há muitos anos. São mais de 50 anos, desde que começou com a radionovela, depois a novela, Excelsior, Tupi, Record e tantas outras grandes emissoras que no passado tinham como principal produto a novela. A novela é um misto de tudo. A novela é uma história, ela tem uma regra básica. É importante estar dentro de um contexto de uma linda história de amor, onde o bem tem que vencer sempre o mal. Existe uma fórmula. A novela tradicional respeita alguns códigos que são importantes. Quando a gente faz minisséries é diferente. Aí a gente pode romper barreiras. Mas a novela tem de ter uma fórmula já consagrada. A novela vive de emoção, de grandes histórias, em que a emoção é a grande protagonista. A alma, a essência da novela, é a emoção.
O que gosta de assistir?
É impossível fazer novela sem assistir ao que todos fazem. É muito importante acompanhar o que está acontecendo no mercado, nas outras emissoras. Acompanho tudo o que está sendo feito em termos de novelas, séries e minisséries, não só no Brasil como no mundo.
Você dirigiu um filme sobre Olga Benário Prestes e uma minissérie sobre sua mãe, Maysa. Que outras personalidades dariam bons roteiros?
O que não falta no nosso país são grandes histórias. A gente é um país muito grande, com milhões de possibilidades, culturas. A gente tem aqui um grande paraíso de histórias, de grandes personalidades. Tudo o que deu muito certo fora do Brasil, quando a gente apresentou filmes ou (outros gêneros) em festivais, foram as histórias que vêm de dentro para fora. O maior exemplo seria (o filme) O Pagador de Promessas, que é uma história muito brasileira e que foi um dos grandes prêmios que a gente recebeu no passado no cinema brasileiro me Cannes (lançado em 1962, é o único filme brasileiro e sul-americano a conquistar a Palma de Ouro do Festival de Cannes, na França).
Qual o desafio em fazer cinema no Brasil hoje?
É levar o público a assistir filmes brasileiros que não sejam só comédia. Não é fácil. Grandes obras que foram feitas com qualidade incrível, se não são comédias, fica ali naqueles 800 mil, 1 milhão de espectadores. Temos um trabalho muito difícil pela frente que é botar público assistindo a filmes brasileiros que não sejam comédia.
O que esperar de O Avental Rosa, seu próximo filme (gravado em Porto Alegre, o longa conta a história de Alice, uma cuidadora de pacientes terminais)?
É uma linda história de amor ao próximo, por meio da qual eu quero transformar o conceito do avental rosa num conceito de ajuda humanitária, de ajuda às pessoas. É uma história muito bonita, muito simples. Acredito que o lançamento seja em agosto.
O que o filme O Tempo e o Vento representou na tua carreira?
É um marco no meu trabalho. Sempre tive o sonho de fazer uma obra como essa. Ter a possibilidade de contar essa história foi um presente. Tenho muito orgulho desse trabalho, do que foi feito, de como foi feito. Vai ser um grande filho que consegui trazer para o mundo e que nunca mais vou esquecer desses momentos. Foram três meses incríveis na minha vida, quando eu tive a oportunidade de fazer o filme em Bagé e em várias locações no Rio Grande do Sul.
Qual teu diretor favorito?
Sou um cara muito clássico, meu cinema é um cinema clássico, um cinema de contador de histórias. Um dos diretores que regem um pouco a minha vida é o (italiano Roberto) Rosselini (1906-1977), que era um diretor muito acadêmico. Sou mais um contador de histórias do que propriamente dito um diretor com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Minha porção Glauber Rocha é mínima. O que me deixa completamente absorvido e completamente fixo na minha cabeça é contar bem aquela história. E ter a certeza de que o protagonista é o texto e não a nossa câmera. Ou que a grande protagonista é a história mesmo. Esse é o segredo.
Que estilo de vinho te atrai?
Começou como uma brincadeira e hoje ficou mais sério. A gente já fez o nosso Villa Matarazzo, que é um vinho português. Eu e Maria Amélia (Duarte Flores), que é a nossa enóloga e responsável por tudo. A minha ideia, com o tempo, é trazer de volta alguns artigos e alguns produtos da Matarazzo. Como bisneto de Francesco Matarazzo, que fez uma grande indústria nem São Paulo e que chegou a ter mais de 400 produtos no mercado, meu sonho é, devagarinho, ir trazendo de volta os produtos da Matarazzo. Estamos trazendo vinho, agora a gente começa com a cerveja, em breve massas, cachaça, de tudo um pouco. A ideia é abrir o Empório Matarazzo.
O que o levou a lançar o Villa Matarazzo e por que a escolha de um produtor português para essa parceria?
Começamos em Portugal, agora estamos indo para a Argentina e, depois, Chile.
Qual a sensação de ter um espumante em homenagem a sua mãe?
Era um sonho. Desde que fiz a minissérie (Maysa: Quando Fala o Coração, 2009), sempre imaginei. Minha mãe bebia muito champanhe rosé. Em parceria com a Guatambu, a gente está conseguindo fazer um trabalho bacana. Está saindo muito e foi um grande acerto. É um processo a longo prazo. Tudo é uma questão de tempo, de você ir conhecendo o mercado, ir se estabelecendo no processo.
Contador de histórias
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Diego Adami
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