Pense em uma banda que teve algum sucesso comercial nos últimos 15 anos e ela provavelmente terá a assinatura de Rick Bonadio. Foi responsabilidade do produtor e empresário paulistano a última leva de sucesso do rock no Brasil, encabeçada por CPM22, Charlie Brown Jr., NXZero e afins. Mas também leva o carimbo de Bonadio boys e girls bands, cantores de uma música só e, antes de tudo isso, os Mamonas Assassinas.
Lançado agora pela editora Seoman, Rick Bonadio – 30 anos de música, joga um pouco de luz na vida pessoal e profissional do músico, produtor, empresário e jurado de TV – atualmente compondo o corpo de técnicos do reality show X Factor Brasil.
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Em entrevista ao Segundo Caderno, Bonadio falou sobre vida e morte em reality shows, o rock no Brasil e a reorganização da indústria.
É possível realmente descobrir gente talentosa em um reality show?
Acredito que sim. Muita gente começou por ali, Thiaguinho e Maria Gadú, por exemplo. Eu vejo os realities como uma oportunidade para quem ainda não encontrou o seu caminho, pra quem esperava por um incentivo.
Então por que a maior parte dos vencedores some tão depressa?
Eles não duram nem mais nem menos do que os artistas que são descobertos fora dos reality shows. A diferença é que quando um sujeito ganha um reality show, todo mundo começa a prestar atenção nesse artista, porque ele teve uma visibilidade muito grande. Só que quando o programa acaba, esse artista é só mais um artista no mercado, tendo que brigar pelo seu repertório, para ter investimento de gravadora, um bom empresário, enfim. O cara de um reality show não é um ET, não é diferenciado dos outros. É muito responsabilidade de um reality show segurar a carreira de um artista por 10 anos.
E dá para esperar que bandas como as que você descobriu, como CPM22 e Charlie Brown Jr. nasçam em reality shows?
Negativo. Banda de rock não dá para surgir em reality, é uma situação bem particular. Primeiro que banda de rock não faz playback. Banda de rock que nasce fazendo playback não pode dar certo. Principalmente se esse reality for na base do playback. A força do Charlie Brown, por exemplo, estava no Chorão, mas também na banda quebrando tudo ao vivo. Imagina se eles fazem um playback e vão tocar no Superstar? Você não ia saber quem era o Charlie Brown e eles poderiam ainda perder para a Malta, que o cara tinha uma voz boa. Ganhou o cara que tinha a voz boa, porque a banda era pré-gravada. E quando você pré-grava os instrumentos, fica tudo muito parecido.
Como avalia o mercado musical hoje?
Temos uma qualidade musical ruim. Está muito fácil o cara dizer que é artista, entende? Ele grava em casa ou num estúdio sem condições, não tem um filtro, um produtor, alguém que acompanhe, ele não vai fazer show, e de repente ele tá na internet, tem muito view, virou mania e é sucesso. Então aí qualquer porcaria faz sucesso. Precisamos ter um equilíbrio para investir em artistas com mais conteúdo e duradouros, não dá pra ficar só nisso.
E como a indústria está se organizando para isso?
Honestamente acho que a indústria não está nem aí pra qualidade. As gravadoras estão lutando para sobreviver e nada mais. O que eu faço na minha gravadora é um mix de artistas populares, apelativos, e outros de qualidade. Mas eu posso fazer, tenho estúdio, estrutura, bons parceiros, invisto em artistas novos, estou lutando para ajudar a renovação da música. Uma hora essa música ruim vai cansar.
Literatura
"Uma hora essa música ruim vai cansar", diz Rick Bonadio
Produtor, empresário e jurado de reality show passa a limpo sua trajetória na indústria musical no livro "30 anos de música"
Gustavo Brigatti
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