A oferta de filmes religiosos e de cunho transcendental vem crescendo nos últimos anos. O cardápio espiritual vai desde o cinema animista de viés budista do tailandês Apichatpong Weerasethakul, diretor de belas produções como Cemitério do Esplendor (2015), até o espiritismo de títulos brasileiros tipo Nosso Lar (2010) e Chico Xavier (2010) – passando pela cinebiografia católica Irmã Dulce (2014) e pelo blockbuster evangélico Os Dez Mandamentos (2016).
O mais recente expoente desse variado filão tem a chancela do bispo televangelista americano Thomas Dexter Jakes, fundador de uma igreja do Texas com mais de 30 mil seguidores e produtor dos melodramas O Céu É de Verdade (2014) e Milagres do Paraíso (2016) – em cartaz na Capital.
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Baseado no livro homônimo de Christy Beam – publicado no Brasil pela editora Vida Melhor –, Milagres do Paraíso relata o drama vivido pela autora depois que uma de suas filhas foi diagnosticada com uma rara e excruciante doença, cujo tratamento é penoso e custoso. Desenganada pela medicina, o destino da menina foi alterado graças a uma suposta intervenção divina. No filme, Christy é vivida por Jennifer Garner, enquanto a garota doente, Annabel, é encarnada pela atriz mirim Kylie Rogers. Completam o clã as irmãs Abbie e Adelynn e o pai, o veterinário Kevin (Martin Henderson).
Cristãos convictos, os Beam vão à igreja sempre e vivem em harmonia em um rancho com vacas, porcos e cachorros. Essa felicidade de comercial de margarina, porém, acaba quando Annabel começa a sentir fortes dores na região do abdômen. Após muitos exames, é constatado que ela tem um grave problema digestivo – e o sofrimento da filha, acompanhado pela falta de perspectiva de cura, leva Christy a questionar sua fé em Deus.
Merecem destaque em Milagres do Paraíso as atuações de coadjuvantes como John Carroll Lynch, no papel do pastor da congregação dos Beam, e o ator e diretor mexicano Eugenio Derbez – protagonista e realizador da comédia Não Aceitamos Devoluções (2013) –, como o médico que trata de Annabel. Mas quem se sobressai mesmo no filme dirigido pela mexicana Patricia Riggen (de Os 33) é a dupla Kylie Rogers e, especialmente, Jennifer Garner – comovente na pele da mãe dolorosa.
Apesar de repleto de bons sentimentos, Milagres do Paraíso sucumbe no fim das contas ao proselitismo da pregação de que só a crença no sobrenatural salva – o que acaba abafando as cotidianas demonstrações de grandeza humana, como o apoio incondicional dos amigos e a gentileza desinteressada de desconhecidos, que igualmente pontuam o calvário da família Beam.