- Mas que tal, tchê? E as exposições, muita festa e coisa e tal?
- Bicho velho, nem te conto. Numa noite me enfezei com umas muchachas e saí à la gandaia. Terminei numa casa de tais requintes, que, quando fui soltar as virilhas, o vaso era de ouro. Ouro maciço, Elpídio. Reluzente, de barulhar as vistas. Até me deu um constrangimento. Mas... como dizia o Capitão Caraguatá: "A quem reprime suas necessidades, a natureza apronta suas maldades".
- Manoelito, menos, por favor. Não te retruco, nem te contradigo, mas vamos botar esse vaso de ouro por conta dos tragos, mano velho. Ora se viu... Daqui a pouco, vais querer que eu acredite em cegonha, mula sem cabeça e alma doutro mundo.
Leia outras colunas de Luiz Coronel
Leia outras colunas Pampianas
- Tchê, tu sabes, se há uma coisa que me embrulha a alma e arrepia os pelos é duvidarem de mim. Vamos apostar? A gente vai junto à capital. Após um andejos, encontramos e mijamos refestelados no mencionado vaso de ouro. Entonces, me dou por ganho e satisfeito, escolho um cavalo crioulo dos teus e, afora isso, uma garrafa de Ballantines. Não achamos o tal vaso dourado, soltamos o chafariz em qualquer recinto, babaus, o ganho é teu, te entrego o meu cavalo malacara que tanto apreciais.
E o rebanho dos dias entrando no corredor das semanas. Um dia desses, que aparecem pendurados nas folhinhas, lá estava o Elpídio e o Manoelito no Hotel Umbu. O nome já era uma garantia contra os raios.
E saíram pela noite, os alarifes.
Um whisky, aqui não é. Um acepipe e dois whiskies, também não é aqui. E vamos em frente, que casa noturna é o que não falta. E, afinal de contas, a noite é uma criança. Lá pelas três da madruga, entraram numa espelunca onde um vanerão escancarado, em altos brados, refestelava as pinguanchas.
Mas foi o Manoelito botar o pé no salão que veio o grito desaforado de um tal de Manchinha, cantor da banda fuzarqueira:
- Mutuca, Mutuca, olha o cuera que mijou no teu trombone.
E foi aquele pega pra capar. Não fosse o poncho um bom escudo e os cueras bons domadores, tinha sido coisa feia.
Voltaram contritos para Dom Pedrito. Até hoje ninguém sabe quem pagou quem. Agora, é frequente ver os dois comparsas, sentados, numa cadeira de rua, tomando umas que outras, entre um amargo e mais outro.
Pampianas
Luiz Coronel: o vaso de ouro
O colunista escreve mensalmente no 2º Caderno
GZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: