Em meio a polêmicas de Uber, corrupções políticas, desastres ambientais e terrorismo (afora todos os outros problemas do nosso dia a dia, como a falta de segurança), seguimos na busca de bons motivos pra sorrir diariamente.
Pensar em fazer arte em momentos como esse pode ser desanimador, é verdade.
Ainda assim, a gente pegou a estrada rumo à Quarta Colônia do Rio grande do Sul para gravar um DVD, um documentário musical (lembram que fiz o financiamento coletivo?).
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Que o RS é um estado plural, já sabemos. De vários cantos do mundo, vieram colonizadores para habitar esses pagos. Espanhóis, portugueses, alemães, italianos, africanos, açorianos, poloneses... Por aqui, índios de várias tribos garantiram a herança pelo duro nessa miscigenação...
A região da quarta colônia é um dos lugares para onde os italianos vieram trabalhar a terra. Trouxeram junto seus conceitos de família, de mesa cheia e farta, o vinho, a fala alta. Ivorá, Faxinal do Soturno, Silveira Martins e Nova Palma, entre outras, são algumas das cidades, privilegiadas por uma bela paisagem onde morros e abundante vegetação dividem espaço com prósperas lavouras, e lugares pitorescos e igrejas históricas preservam uma identidade particular. Por vezes, a arquitetura nos remete a um tempo passado.
É aí que religião e tradição se encontram no sentido de preservação. Os imigrantes que aqui chegaram trouxeram consigo aspectos fundamentais do seu lugar de origem. A religiosidade, assim como a música e a arte de um modo geral, é uma forma de manter viva a raiz.
Misturaram-se ao lugar. Mantiveram seus traços e ajudaram a formar uma nova gente sul-rio-grandense.
Que é de cada um, um pouco.
Esse é hoje o gaúcho. Na Serra, na Fronteira, nas Missões, no Sul, no Centro ou no Litoral. Resultado de uma troca constante entre povos que vieram de longe, outros que aqui estavam e deram o sentido que hoje entendemos como "gaúcho".
Como é bom perceber as diferenças e que o Rio Grande é de tudo e um só.
E que o sentido de tradição é tão maior do que imaginamos às vezes. Que ela está no amarelado da casa e no vinco do rosto de quem passa a história aos seus. No que permanece, no que troca e no novo que surge a cada tempo, mas segue enraizado.
E que nada começa e termina aqui: somos fruto de onde viemos e estaremos nos que descenderem. "Raiz de minhas íntimas origens, veio subterrâneo de onde eu vim", já disse o Rillo.
Pampianas
Shana Müller: tradição e raiz
A colunista escreve mensalmente no 2º Caderno
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