Soma de todos os medos, a impotência sexual ou a falta de desejo são daqueles temas que a literatura aborda pelas beiradas - quando aborda. Jacques Fux, escritor mineiro de 38 anos, resolveu aproveitar a deixa e, não faz dois meses, deu ao mundo Brochadas, romance em que, bem, fala exatamente do assunto que o título anuncia. Merecedor do prêmio São Paulo de Literatura de 2013 com seu primeiro romance, Antiterapias, Fux tem uma prosa que é pura diversão.
Matemático, com mestrado em Computação, Jacques dedicou-se à pesquisa sobre a relação entre literatura e os números em seus autores-fetiche, Jorge Luís Borges e o francês Georges Perec, incluindo ainda estudos sobre o grupo OuLiPo. Com extensa formação acadêmica, Fux deu-se ao luxo de recusar a linguagem pálida dos patrulhamentos, cedendo um tanto à escatologia, crueza necessária para compor essa "Ilíada da impotência" que oscila de Platão ao rés do chão. E que é de se rolar de rir.
Brochadas é um misto de autoficção, metaficção e erudição farsesca ao estilo borgiano. O leitor fica logo sabendo que se está a escrever um livro sobre o tema da brochice e que o narrador está fazendo a recolha dos episódios dos seus não poucos insucessos amorosos, atribuindo a culpa do fracasso do Jacozinho (que é como chama seu membro) à moça da vez (mau hálito, chulé, bunda caída, pelos ao redor dos mamilos, depilação pubiana vencida, fedentina). A seguir, envia um e-mail à dita, contando que está escrevendo um livro assim e assado, perguntando o que a moça acha da brochada relatada e se autoriza a inclusão do evento, com nome e tudo, na obra. As respostas das ex-amantes são possessas e furibundas. E muito, muito engraçadas.
O que menos importa é, claro, saber se as experiências relatadas são reais. Logo no início do livro, o simpático mineiro diz que "Tudo aqui é verdade, exceto o que não invento". E, para consolar todos os de membros tímidos, Fux cita Hilda Hilst, que nO Caderno Rosa de Lori Lamby, de 1990, afirma: "Que bom que as pessoas têm línguas e têm dedo".