Amanhã (15/10) será Dia do professor e os números estão contra nós: cresce a violência em sala de aula, decrescem o português e a matemática, mantém-se o descalabro das ciências da natureza. Amanhã será Dia do Professor e em outro lugar afirmei que só voltaria a falar no assunto após uma duplicação imediata dos salários dos docentes, para depois discutirem-se os métodos, os resultados, os comprometimentos. Mas amanhã será Dia do Professor e, sim, precisamos falar e temos de comemorar porque, a despeito de tudo, milhares de profissionais não negaram suas vocações, não cruzaram os braços diante deste ou daquele governo, seguiram e seguem ensinando para seus alunos o que sabem (seja pouco ou muito), tantas vezes sem estímulo, sem estrutura, sem esperança, movidos tão-somente pela chama interna deste laico sacerdócio.
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Amanhã será Dia do Professor e lembro dos meus grandes amigos, quase todos professores, e dos professores de quem fiquei amigo - os grandes mestres nunca saem de nossas vidas.
Porque amanhã será Dia do Professor, permitam-me o orgulho de dizer que pertenço a uma linhagem de dedicados educadores: minha mãe, meu pai, meu tio, minha tia, minha irmã, minha avó paterna. Gosto de imaginar que em aula participo deste laço sanguíneo (como tantos médicos, advogados, engenheiros, empresários talvez sintam o mesmo unidos aos seus parentes pelo trabalho). Quando acerto nas aulas de literatura do Unificado, penso na família, reencontro a família. Quando acerto e a aula flui feito um rio, sereno ou feroz (e sei que receberei mensagens ameaçadoras de colegas, como se eu revelasse o segredo de um antigo truque), inunda-me uma alegria plena, com poderes de unguento: não há garganta inflamada, ciático arisco, contas atrasadas, desafetos. Alegria. Alegria duradoura e miraculosa. Quero crer que os maus professores, como os maus amantes, nunca a descobriram e, por isso, aferram-se aos problemas como se fossem as reais barreiras a serem vencidas para a realização pessoal.
Quero crer que para todos os demais, apesar de tantas desvalias, não haverá outro lugar para estar senão no dia de amanhã até que o tempo venha nos render.
Coluna
Pedro Gonzaga: o dia
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno
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