Finalmente uma boa notícia: no sábado, 4 de julho, nasceu um autor. Guilherme Giugliani estreou oficialmente sua carreira literária com o lançamento de Antes e Depois do Tempo (Terceiro Selo, 128 páginas). Dele, ouviremos falar muito, e muito bem.
Tive a felicidade de, por dever do ofício, acompanhar uma parte da formação de Guilherme como autor. Sei que ele é leitor exigente e que se recusa ao fácil e ao banal, uma ousadia que requer o empenho de refazer o texto várias vezes, sempre buscando a melhor expressão. Sei também que ele enveredou pelo caminho da tradição, sem invencionices ou malabarismos temático-linguísticos, dedicando-se ao conto clássico, gênero que demanda grande esforço narrativo - Guilherme domina a técnica de contar duas histórias ao mesmo tempo, uma que se entrega ao leitor de imediato e outra que representa a tensão do subentendido e da entrelinha.
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Dentro de uma linhagem na qual brilham os contos sempre impressionantes de nosso decano Sergio Faraco, bem como os de Monique Revillion, de Amilcar Bettega e de João Anzanello Carrascoza, uma parte dos narradores de Guilherme é de crianças. São adultos que, olhando para trás, por cima do ombro, recordam as histórias do menino que um dia foram, guardando ainda a surpresa de mundo e aquela espécie de solidariedade e elegância que o tempo rouba. O primeiro conto do livro, A Pescaria, é uma pérola de tão bonito.
Paulista por nascimento e gaúcho por adoção, Guilherme parece perseguir o próprio crescimento, investindo também em narradores adolescentes e jovens, todos eles em algum momento crucial da vida, fato que torna o conjunto de 15 contos uma espécie de, digamos, "livro de formação". São histórias de se ler sempre emocionado, porque nosso autor é especialista em provocar os sentimentos de seus leitores.
Com belo projeto gráfico de Humberto Nunes, edição supercuidada (a Terceiro Selo pertence à brava editora Dublinense), Antes e Depois do Tempo deve ser saudado como o início de uma carreira de um rapaz que já é escritor.