O show dos Backstreet Boys, em Porto Alegre, me fez sentir o pior e o melhor do ser humano em uma noite que eu classificaria como surreal.
Estava muito ansiosa para assistir à apresentação, já que entraria em uma espécie de caixinha do túnel do tempo capaz de me levar em épocas anteriores aos 15 anos, e olha que não sou fã de colecionar pôster, ler todas as notícias e saber o nome de todos os álbuns da banda.
De minha parte, devo parabenizar a organização do evento, já que apesar de não permitir a entrada de acompanhante para as grávidas, acolheu de forma adequada todos os portadores de necessidades especiais em um espaço no qual se tinha uma visão privilegiada do palco. Só para frisar, espaço para portadores de necessidades especiais é o local onde ficam aqueles com toda e qualquer deficiência, incluindo quem possui mobilidade reduzida e as grávidas.
Emoção do início ao fim: saiba como foi o show do Backstreet Boys em Porto Alegre
Antes mesmo de chegar ao local destinado aos PNEs, empurrões e uma escolta básica foram a marca da chegada, mas isso é normal em quase todos os eventos do universo, já que todos querem o melhor lugar para dançar, admirar e ser feliz. Minha indignação começou no momento em que pessoas localizadas atrás da pista elevada destinada a nós começaram a proferir xingamentos e atirar bolinhas de papel, visando intimidar quem estivesse de pé.
Como expliquei anteriormente, o espaço destinado aos PNEs reúne pessoas com todas as deficiências, mobilidade reduzida e grávidas logo, não havia a necessidade de todos estarem sentados. Além disso, quando uma pessoa fica atrás de um espaço com pista elevada, é óbvio que sua visão será prejudicada, o que em algumas vezes pode causar uma certa irritação.
Leia o blog De Olhos Fechados
No caso de ontem, ninguém que estava ali sentiu-se à vontade por ter sido classificada como mentirosa, ouvir palavras ofensivas, ser ameaçada ou intimidada por pessoas que deveriam estar felizes com os cinco meninos que logo a seguir fariam nossa alegria, mas não diminuiriam a fúria das moças de trás. O pior, foi ouvir de duas moças que em todos os eventos as pessoas tratam com hostilidade os ocupantes do espaço destinado aos PNEs.
Penso que todos deveríamos refletir se nossa atitude condiz com o que gostaríamos que fizessem por nós e se estamos tratando o outro da mesma forma que gostaríamos que tratassem nossos amigos e parentes. Enquanto isso, volto ao túnel do tempo e fico com a época em que o respeito as diferenças, as brincadeiras e a docilidade enchiam o ambiente de leveza.
Opinião
Cristiely Carvalho: o show que eu vi dos Backstreet Boys
Jornalista de ZH com deficiência visual foi ao show dos Backstreet Boys em Porto Alegre e conta a experiência
Cristiely Lopes
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project