Pois então mudei de ares. Do Cultura dos sábados para as segundas-feiras do Segundo Caderno. Quem me lia lá, espero que me siga aqui. Quem não me lia e não faz ideia de quem se trata ou sobre o que escrevo, dá vontade de cantar como Mick Jagger: com licença, permita que eu me apresente.
Ele cantava isso em 1968, um ano também de muitas mudanças, e nunca consegui pensar que Sympathy for the Devil falasse do demônio. Para mim, quem se apresentava era o próprio Mick Jagger e vai até aí a utilidade das apresentações. Uma voz como aquela do Jagger dos inícios dos Rolling Stones não podia mesmo falar de outra pessoa. Foi assim que, apresentações feitas, passei a consumir Rolling Stones com apetite de churrasco e, desde então, faço, penso e escrevo sobre música.
Então, casa nova. Nunca morei num lugar que não tivesse construções à volta. Marteladas, serras elétricas e picaretadas têm sido minha paisagem sonora de sempre. Mas, de casa nova em casa nova, nunca ouvi alguém dizer qual é mesmo a importância de a Ospa ter o sonho da casa própria e de se esforçar - e não é de hoje - para realizar o sonho.
Ora, é da natureza do circo mambembe mambembar e do andarilho andarilhar. Mas orquestras são paquidermes pesados e precisam de uma alma para chamar de sua. E a alma está na casa própria, esse é o lugar da orquestra. Ali as sonoridades se moldam, a personalidade se forma, o orgulho cresce, o sentido de pertencimento se fortalece e se fixa. Mesmo depois de 60 anos de serviços prestados à música, a Ospa segue mambembando, agora mais do que nunca.
É o fio da navalha: ou a casa nova ou a extinção. Por um lado, falta muito: as políticas sobem e descem, as verbas vão e às vezes não vêm. Mas olhando a coisa por outro lado, falta pouco. Daqui a semanas as obras da casa nova começarão a ocupar a paisagem, e a paisagem vai ocupar o olhar de quem passa. Já será o suficiente para que a Ospa finque o pé no que lhe é de direito e para garantir que um pouco da música de Porto Alegre sobreviva um pouco mais.
Ospa
Celso Loreiro Chaves: "A alma está na casa própria"
As orquestras são paquidermes pesados e precisam de uma alma para chamar de sua
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