Por obra do Santo Acaso, tenho mais uma história de Natal para contar. Como já mencionei neste espaço em outra ocasião, sou vizinho do Papai Noel - um simpático comerciante de automóveis que incorpora o Bom Velhinho há mais de 40 anos, com sua barba natural e seu espírito gentil, para trabalhar num movimentado shopping da Capital. Pois eu estava saindo para a minha caminhada matinal, dia desses, quando ouvi a buzina de um carro. No volante, o próprio Papai Noel, em carne, osso, fantasia vermelha e tudo o mais.
- Quer dar uma volta comigo? - perguntou.
- Se não for até a Lapônia, vou, pois tenho que estar de volta antes do meio-dia - respondi.
Era para um lugar ainda mais especial: o Hospital Psiquiátrico São Pedro. A missão do papai e vovô Laércio, este é o nome do homem, era distribuir presentes e guloseimas aos internos, cortesia de uma senhora que faz trabalho voluntário na instituição. Fomos, Papai Noel dirigindo e eu na condição de duende improvisado.
Primeira surpresa da inesperada aventura: o trânsito se torna pacífico para Papai Noel. Carros dão passagem, todas as buzinadas são de saudação e os ocupantes dos outros veículos não resistem em brincar quando encostam ao lado, nos sinais.
- Ô, Papai Noel, deixou as renas em casa?
Até na portaria de entrada do HPSP fomos tratados com deferência. Surpresos e encantados com o motorista, os vigilantes abriram o portão sem pedir qualquer identidade e disseram quase em uníssono:
- Não esquece do nosso presente, Papai Noel!
Quando contei essa passagem para um colega de jornal, ele comentou bem-humorado:
- Entrar é fácil, queria ver era ele alegando na saída que é o Papai Noel.
Mas entramos e saímos sem problemas. Lá dentro, Laércio proporcionou momentos de alegria e encantamento para pacientes e funcionários, tocando o sino, entregando os presentes, tirando fotos e distribuindo abraços. Na condição de ajudante, tive que superar a emoção para fazer a minha parte.
Perdi o exercício da manhã, mas ganhei o dia. Voltei gratificado por ter contribuído, embora modestamente, com aquela ação tão simples e tão grandiosa. Meu amigo não entregou apenas balas e biscoitos para aquelas pessoas que vivem no mundo do alheamento, muitas delas abandonadas por parentes e amigos. Ainda que por breves momentos, devolveu-lhes a infância.
E há quem diga que Papai Noel não existe.