Mais do que aproximar limites, os últimos dias da programação da Jornada Nacional de Literatura foram dedicados a sondar periferias. Alguns dos principais shows e debates destes dias 30 e 31 têm como foco projetos de diversos locais do país interessados em fazer da leitura atividade de inclusão - e de ampliar o próprio conceito de "leitura", abarcando experiências não necessariamente literárias.
Dois dos convidados do principal debate deste sábado, intitulado justamente A Leitura das Ruas, são conhecidos ativistas interessados em levar a literatura para os que não teriam acesso a ela em instâncias consagradas como feiras literárias ou livrarias: o mexicano Alejandro Reyes, que viveu nove anos no Brasil e hoje vive e trabalha em Chiapas, no México, e o paulistano Sérgio Vaz, fundador da Cooperifa, que realiza saraus livres de poesia e improviso e exibições de documentários no Capão Redondo, zona sul da capital paulista.
- A gente faz sessão de cinema para levar lá pra cima tudo o que tem nos redutos bacanas do Centro. Sessão nossa tem até lanterninha e tapete vermelho, e lota de gente - diz Sérgio Vaz.
A escalação da mesa também se completa com o rapper Emicida, uma das estrelas musicais trazidas para discutir os próprios limites entre o que é ou não literatura. De acordo com a coordenadora da Jornada Nacional de Literatura, Tânia Rösing, "Nossa preocupação é atrair leitores e formar leitores, e não é possível fazer isso hoje sem olhar para essas outras vozes que por muito tempo não foram ouvidas. Hoje, além de romance, poesia, conto, no Brasil é possível ver a canção como um gênero literário. E dentro desse gênero, há várias ramificações, como o próprio rap, que são a representação de um universo que está pedindo análise. Não adianta ficarmos só referendando sempre as mesmas noções".
Na mesma linha, um dos fundadores do AfroReggae, Anderson Sá, grupo que há anos participa da jornada e que reunia, nos intervalos das palestras, públicos de todas as tendas e todas as tribos, se diz incomodado com a distinção crítica faz entre "literatura" e "literatura da rua". Para ele, tudo é literatura, de Drummond a Sérgio Vaz. No entanto, ele admite que há uma maior aproximação do jovem quando ele ouve que a manifestação cultural é "das ruas" e tem relação com os temas que ele vivencia diariamente.
Periferia
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