No dia 13 de dezembro, completam-se cem anos de nascimento de Luiz Gonzaga (1912 - 1989). Nesta sexta-feira, estreia a cinebiografia Gonzaga - De Pai pra Filho, filme que aborda a trajetória do Rei do Baião tendo como ponto de partida o tenso reencontro com sabor de acerto de contas do ídolo com o filho, o cantor e compositor Gonzaguinha - em uma impressionante interpretação do ator gaúcho Júlio Andrade.
Para encarnar Gonzagão nas várias fases de sua vida, o diretor Breno Silveira - o mesmo do sucesso 2 Filhos de Francisco - testou milhares de candidatos, optando por um estreante para o período entre 27 e 50 anos do personagem: o músico paulista Chambinho do Acordeon.
Confira, abaixo, as entrevistas com Chambinho e Breno:
Chambinho do Acordeon, 32 anos, músico e ator
Zero Hora - O que significa para você ter vivido Luiz Gonzaga?
Chambinho do Acordeon - É complicado só de falar de Gonzaga, imagina interpretar um homem desse tamanho... Em 2010, em um show em Jaicós, no Piauí, que é a cidade da minha família, tive a ideia de fazer um momento Gonzagão: coloquei o chapéu, a indumentária e entrei gritando "Ei, boi!". Teve gente que disse: "O homem desceu!". Depois, em Recife, durante a filmagem, dei minha primeira entrevista de rádio, já escolhido para o papel. E o radialista, que é um cara famosíssimo de lá, perguntou no ar: "Sanfoneiro, Gonzaga comia tua mãe? Tu é a cara dele!".
ZH - Como você foi escolhido para o papel?
Chambinho - Me disseram que a Conspiração (produtora do filme) estava procurando sanfoneiros para interpretar Luiz Gonzaga. Não levei muita fé, mas minha mulher me inscreveu e acabei selecionado para um teste. Me disseram que o teste era na Lapa (distrito da região oeste da cidade de São Paulo). Mas, depois, descobri que era nos Arcos da Lapa (Rio de Janeiro)! Aluguei um carro, e minha esposa foi dirigindo enquanto eu ia tentando decorar os textos. Cheguei lá, mas não consegui dizer as minhas falas, tive que ler e toquei um pouco de sanfona. Mesmo assim, o Breno me chamou para mais testes. Nesse meio-tempo, fui fazer um show no Nordeste e resolvi visitar Exu (cidade pernambucana onde Luiz Gonzaga nasceu). Fui no museu dedicado a Gonzagão e fiz uma oração para ele. Foi lá que recebi a ligação dizendo que tinha sido escolhido. Imagina a choradeira!
ZH - O que aprendeu com o filme?
Chambinho - Uma das coisas que aprendi foi dar entrevistas (risos). No palco, sou uma coisa, fora dele sou muito tímido. Já o Gonzaga era totalmente para fora, expansivo. Foi difícil para mim. Esse tempo que passei com o Breno e o Sergio Penna (preparador de elenco) foi uma espécie de autoajuda para mim. Já mudei um pouquinho depois do filme, né? O Breno foi corajoso em apostar em alguém sem bagagem nenhuma no cinema. Por outro lado, acreditou em uma verdade, no jeito de eu pegar a sanfona. Ele não apostou em atores renomados que fizeram os testes e que talvez fossem interpretar melhor do que eu. É que vivo o que o Gonzaga viveu, de tocar na noite, tocar em praça pública, a rejeição de grã-fino olhando de lado...
ZH - A pergunta que não quer calar: o apelido é por causa do iogurte?
Chambinho - Sim, sempre gostei do iogurte (risos). Até hoje, lá em casa tem... Foi um músico amigo meu que me botou esse apelido, quando eu tocava teclado na noite de São Paulo, aos 16 anos. Tentei tirar depois que virei sanfoneiro, usar meu nome, Nivaldo Carvalho. Coincidentemente, tem um sanfoneiro de Brasília chamado Nivaldo, por sinal muito bom. Aí ficou Chambinho mesmo.
Breno Silveira, 48 anos, diretor
Zero Hora - Como surgiu o projeto desse filme?
Breno Silveira - Depois de 2 Filhos de Francisco, não queria mais saber de cinebiografias. Todo mundo me procurou e mandou livro, você nem imagina: de corredor de Fórmula-1 a ginasta, jogadores de futebol como Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho. Fui na casa de todo mundo! Mas, para uma cinebiografia funcionar, tem que ter drama. Quando escutei as fitas que o Gonzaguinha gravou conversando com o pai, entre 15 e 16 horas de gravações, vi que tinha que fazer o filme. Frases como "Não me interessa se o seu sangue não corre nas minhas veias, você é meu filho", que está lá no filme, me emocionaram. Descobri depois que com Gonzaga nada é pequeno: fiquei sete anos envolvido com o filme, um ano até encontrar entre 5 mil candidatos o ator para viver o papel dele, são 200 atores com fala! Meu maior medo era não conseguir respeitar o mito Gonzagão: ele é a razão do Brasil, nosso primeiro artista pop. Escolhi o primeiro recorte que tinha me tocado: o reencontro de um filho com o pai.
ZH - Novamente a figura do pai no centro da história, como em 2 Filhos de Francisco e À Beira do Caminho.
Breno - Isso me toca, não sei por que, já que tenho uma relação ótima com meu pai. Outro dia, ele me perguntou: "Qual é o problema que a gente tem, meu filho?" (risos).O Brasil é um país de migrantes, de gente que abandona as raízes e fica muito sem pai.
ZH - Depois de levar mais de 5,3 milhões de pessoas ao cinema com 2 Filhos de Francisco, a pressão para repetir esse sucesso deve ser grande.
Breno - Brinco que vai ser o Gonzaga contra o 007 e o vampiro (referência às estreias de 007 - Operação Skyfall, nesta sexta, e do último filme da saga Crepúsculo, no dia 15 de novembro). Eu vi 2 Filhos... bater o Batman na bilheteria. Gonzaga custou R$ 12 milhões e queremos entrar em cartaz em 400 salas, com força no Nordeste. O drama que está ali em Gonzaga não é regional, é universal. O público brasileiro vai se identificar como o que vir na tela, mesmo aquele do Rio Grande do Sul.
Mito da sanfona
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Roger Lerina
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