Na primeira vez em que veio a Porto Alegre, em junho de 1986, ele integrava o grupo do ídolo Charly García - mas já despontava como uma nova estrela. A promessa cristalizou-se em 1992, quando Fito Páez lançou El Amor Después del Amor, o disco mais vendido da história do rock argentino.
No domingo, o músico volta à capital gaúcha, no Pepsi On Stage, com o show que celebra as duas décadas do antológico álbum que o catapultou ao estrelato internacional. O jovem magrão e cabeludo empolgou o público porto-alegrense que conferiu há 26 anos os dois concertos antológicos de Charly García no antigo Teatro da Ospa.
Pulando atrás dos teclados e fazendo vocais de apoio, Fito Páez mostrava brilho próprio acompanhando o ícone do rock argentino. Os hermanos já conheciam bem o potencial do pibe nascido em Rosário, no centro-oeste argentino, que tocou em bandas de sua cidade natal antes de estrear em disco em 1984, com Del 63.
A trajetória ascendente de Fito disparou em 1992 com El Amor Después del Amor: graças a hits como Dos Días en la Vida, Tráfico por Katmandú, Un Vestido y un Amor, Tumbas de la Gloria, La Rueda Mágica, A Rodar mi Vida e a música-título, o álbum transformou-se em um fenômeno comercial, vendendo na época cerca de 750 mil cópias - estima-se que hoje o disco já tenha vendido 1,1 milhão de exemplares.
O cantor, compositor e tecladista saiu então em turnê, lotando estádios na Argentina e em países latino-americanos como Cuba - onde foi o primeiro estrangeiro a se apresentar na Plaza de la Revolución, em Havana, diante de 50 mil pessoas.
Passados 20 anos desse estouro, Fito Páez revisita agora seu pulo do gato: a turnê mundial Veinte Años Después del Amor começou no dia 2 junho, em Santiago do Chile, e chega nesta semana ao Brasil - antes de Porto Alegre, o artista toca em São Paulo e Curitiba. Acompanhado por uma banda de cinco músicos e uma vocalista, Fito mostra as 14 faixas de El Amor Después del Amor, na ordem do disco, seguidas de êxitos de outros trabalhos, como Cadáver Exquisito, 11 y 6, Dar Es Dar, Circo Beat, Naturaleza Sangre, Al Lado del Camino, Y Dale Alegría a mi Corazón e Mariposa Tecknicolor.
A gravação do oitavo disco do roqueiro contou na época com participações especiais de grandes artistas argentinos - e muitos desses convidados estarão virtualmente cantando de novo com Fito: Fabiana Cantilo (ex-mulher do músico), Celeste Carballo, Charly García, Andrés Calamaro e Luis Alberto Spinetta (morto em fevereiro) surgem projetados em imagens em um telão.
Aos 49 anos e 13 álbuns depois, Fito Páez continua magro - o cabelo, porém, está bem mais curto, e a barba rala cobre-lhe parcialmente o rosto. Em abril passado, ao lado de Charly García, encerrou um festival de rock em Buenos Aires, embalando com seus hits 50 mil pessoas no estádio do River Plate. O vigor de Fito e sua obra desdenha o passar do tempo e parece ilustrar o verso do clássico tango Volver: "20 años no es nada".
Confira, a seguir, entrevista que o músico concedeu por e-mail:
Zero Hora - Como será o show aqui em Porto Alegre?
Fito Páez - O concerto Veinte Años Después del Amor começa com todos os temas do disco em sua ordem original, e a segunda parte inclui canções de todos esses anos. As versões se parecem muito com as originais, quase não mudamos nada nelas. Nos demos conta de que estavam muito bem, que assim funcionavam e não era necessário modificar praticamente nada.
ZH - Em El Amor Después del Amor, você gravou com os artistas mais importantes da Argentina da época - Mercedes Sosa, Charly García, Luis Alberto Spinetta, Andrés Calamaro -, reuniu um número incrível de sucessos, vendeu milhares de cópias. Como você avalia esse fenômeno 20 anos depois?
Fito - Esse disco superou 1 milhão de cópias vendidas, foi um verdadeiro sucesso e estou muito feliz de fazer essa turnê, para nós é uma grande celebração. São coisas que acontecem com as canções e o público, e nesse caso as coisas aconteceram assim... Não posso analisar muito bem por que aconteceu o que aconteceu, o que, sim, posso fazer hoje é voltar à estrada com essas canções e curtir. Todos esses maravilhosos artistas que participaram do disco na época estão presentes nesses concertos, essa é a grande surpresa para as pessoas, vão vê-los todos ali em cada canção.
ZH - Esse disco confirmou seu talento como compositor e intérprete e lançou você no mercado internacional. Como a sua carreira posterior foi marcada por El Amor Después del Amor?
Fito - É o que eu dizia antes: El Amor Después del Amor foi um enorme sucesso no meu país e no Exterior, são coisas que me ultrapassam. Eu segui durante esses 20 anos sentado ao piano, tocando e fazendo canções, escrevendo e gozando muitíssimo com a música. Esse aniversário número 20 foi a desculpa perfeita para sair a celebrar com um grupo de músicos geniais, que são os que vão tocar comigo no Brasil.
ZH - Você é um dos artistas hispânicos que mais aposta no mercado brasileiro, há muitos anos gravando canções em português e ao lado de músicos brasileiros. No entanto, seu sucesso aqui ainda está aquém desse investimento e da qualidade do seu trabalho. Você acha que a língua segue sendo um problema? Os brasileiros têm preconceito com a música cantada em espanhol?
Fito - Talvez seja insuficiente para ti, porque para mim a resposta do público brasileiro é maravilhosa e sempre me surpreende. Eu estou muito feliz com minha relação com o Brasil. Amo esse lugar, todos os anos gravo aí e, quando toco em alguma sala, a resposta do público me emociona, me faz sentir em casa. A questão da língua tampouco sei se é uma barreira ou um problema, nem creio que o Brasil seja um povo preconceituoso com outros idiomas.
ZH - Fale um pouco sobre as versões em português de suas canções, interpretadas por artistas como Caetano Veloso, Paralamas do Sucesso e Nenhum de Nós.
Fito - Todas foram experiências extraordinárias e inesquecíveis para mim. Quando me disseram que Caetano havia pedido autorização para gravar a canção (Un Vestido y un Amor) não pude acreditar, pensei que era uma brincadeira de meus companheiros, foi algo muito importante para mim. Os amigos de Paralamas e Nenhum de Nós gravaram belas versões e me sinto muito honrado com isso.
ZH - Falando ainda sobre esse tema, você gravou com Chico Buarque uma bossa nova no disco Canciones Aliens e acaba de gravar em Buenos Aires com Vitor Ramil. Como é trabalhar com músicos brasileiros?
Fito - A música transcende essas barreiras, não são obstáculos em nenhum sentido, ao contrário, enriquecem a busca musical. A experiência com Chico foi tremenda, e admiro-o muitíssimo. Toda a vida escutei-o e sua música tem sido muito importante na minha vida. Creio que é muito importante para o disco a sua contribuição.
ZH - No recente Canciones para Aliens, você gravou versões inusitadas de temas de nomes tão diversos como Queen, Jacques Brel, Chico Buarque, Pablo Milanés, Víctor Jara, Joan Manuel Serrat, Verdi e Bob Dylan. Fale um pouco sobre esse ecletismo.
Fito - A escolha dessas canções tem que ver apenas com um gosto pessoal e minha história de vida vinculada a esse repertório. Não há um "por que essas canções sim e outras canções não"... Foi algo muito ligado a meu gosto pessoal e à afinidade com essas canções escolhidas.
ZH - Quais são os artistas argentinos e brasileiros que você tem escutado?
Fito - Caetano sempre, Chico, Jobim desde a infância até hoje. Dividimos o último concerto no Gran Rex de Buenos Aires com os Paralamas, são os músicos brasileiros que escuto muitíssimos e sigo. Da Argentina, artistas como Lisandro Aristimuño, Pablo Dacal. Do Uruguai, Jorge Drexler ou Fernando Cabrera. E sempre, sempre voltar a revisar a obra genial de Luis Alberto Spinetta e Charly García.
FITO PÁEZ
Os ingressos para o show, domingo, às 22h, no Pepsi On Stage (Severo Dullius, 1.995, fone: (51) 3371-1948), custam R$ 140 (mezanino) e R$ 160 (pista VIP), no 3º lote; e R$ 100 (pista), no 4º lote. Pontos de venda: lojas Trópico (shoppings Iguatemi, Praia de Belas, Moinhos, Total, BarraShoppingSul, Bourbon Ipiranga, Bourbon São Leopoldo, Canoas Shopping e Bourbon Novo Hamburgo) e pelos sites www.opiniaoingressos.com.br e www.ticketbrasil.com.br.
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Roger Lerina
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