Realizada no final de semana em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, a 36ª Moenda da Canção consagrou João Craque de Bola com o prêmio máximo do festival. A canção tem melodia de Raphael Madruga, que escreveu a letra com Luis Fernando Bender. Acompanhado de Gustavo Brodinho (baixo e vocal), Matheus Krummenauer (violão e vocal), Lucas Ferrera (acordeon e vocal) e Ciro Ferreira (violão de 12 cordas), Madruga interpretou a toada no palco do evento.
A premiação ocorreu na noite do último domingo (13). Madruga recebeu o troféu das mãos de Roseli Rodrigues Pereira, moradora de Caraá — município vizinho de Santo Antônio da Patrulha — que ficou 36 horas em cima de uma árvore, durante a passagem do ciclone extratropical de junho. A história de Roseli, aliás, também foi trazida ao palco do festival.
João Craque de Bola aborda a história de um jogador de futebol orgulhoso e sonhador, mas que sofre com um destino traiçoeiro. Ao ir para a cidade, ele é assolado pelo crack. Consequentemente, perde sua identidade ("Agora ele é ninguém/ Aos olhos da sociedade").
Madruga lembra que João Craque de Bola foi criada durante o Festival Nativista Paradouro do Minuano, em 2017. Na ocasião, o tema que foi proposto para os compositores foi a identidade. Ao ver a realização de operações policiais na Cracolândia, em São Paulo, o compositor decidiu refletir sobre o assunto.
— Parecia que as pessoas são apenas números, não têm identidade. São apenas um problema a ser varrido para debaixo do tapete — explica Madruga, que contou com a ajuda de Bender para finalizar a letra.
Morador de Canoas e natural de Porto Alegre, Madruga tem 32 anos e trabalha com música desde os 14, quando participou pela primeira vez de um festival como compositor. Desde então, passou a circular pelos eventos de música do Estado. Atualmente, trabalha com projeto de música autoral e é integrante da banda Camaléon, que foca na música latina.
Na Moenda de 2019, ele foi contemplado na categoria de Melhor Música na Opinião do Público, com Deli Cadê Zazá?, ao lado de Erick Corrêa Castro, Adriano Zuli e Pedro Ribas. Desta vez, foi agraciado pelo júri com um tema de cunho social.
— João Craque de Bola traz um tema muito pesado, difícil de se abordar em um festival. Não é algo que as pessoas estão a fim de ouvir, mas o público a recebeu muito bem. Ganhar a Moenda é uma baita honra, é um dos principais festivais do Brasil — destaca.
O segundo lugar da do Troféu Cantador, da Moenda da Canção, ficou com Mais Que O Próprio Céu, letra de Piero Ereno e melodia de Matheus Alves. Já o terceiro lugar foi destinado a Toda Flor do Teu Olhar, com letra Mateus Neves da Fontoura e Beto Barros, além de melodia de Ezequiel da Rosa e Beto Barros.
Durante os três dias de festival, a organização do evento estima que nove mil pessoas acompanharam 28 composições, entre Moenda, Moenda Instrumental e Moendinha (destinada a jovens entre oito e 17 anos), além de apresentações de nomes como Quarteto Coração de Potro, Tambo do Bando e Cristiano Quevedo.
Letra de João Craque de Bola
De guri cresceu brincando
O João craque de bola
Sonhava ganhar o mundo
Desde os tempos da escola
Orgulhoso porque tinha
Em seu bolso a identidade:
- "Tenho nome e sobrenome,
Sou um homem de verdade!"
Mas o destino traiçoeiro
Trocou o rumo de João
Foi parar lá na cidade
Sem dinheiro e profissão
E um dia numa esquina
Alguém chamou sua atenção:
- “Chega aqui meu companheiro
Te apresento a solução! ”
E dessa hora em diante
Já não era mais João
Quem comandava sua vida
E escolhia a direção
Da bola já não era craque
Nem o crack era opção:
Já era necessidade
Na vida nova de João
E o João louco de pedra
Foi trocando o que nem tinha
Oito segundos de prazer
E uma vida na latinha
Perdeu nome e sobrenome:
Seu orgulho e identidade
Agora ele é ninguém
Aos olhos da sociedade
João já nem é João
E sua vida pouco importa
Só incomoda se o João
For bater na tua porta
Maltrapilho e fedorento
Implorando por esmola
São tantos como João
O João, Craque de bola
“Todo mundo nasce sendo alguém, com nome e sobrenome, mas muita gente em um dia, qualquer dia, um dia comum, toma uma decisão, e essa decisão toma conta da sua vida. Talvez nem se note, mas esse simples ato impede que qualquer sonho que um dia existira tome vida. A partir desse momento, não se tem mais nome, sobrenome ou qualquer tipo de identidade, são apenas números, estatística, um problema social. Daí em diante, parceiro, nenhum João segue sendo João”.
Resultado da 36ª Moenda da Canção e 12ª Moenda Instrumental
1º lugar: Troféu Cantador
- João Craque de Bola
- Letra: Raphael Madruga e Luis Fernando Bender
- Melodia: Raphael Madruga
2º lugar: Troféu Cantador
- Mais Que O Próprio Céu
- Letra: Piero Ereno
- Melodia: Matheus Alves
3º lugar: Troféu Cantador
- Toda Flor do Teu Olhar
- Letra: Mateus Neves da Fontoura e Beto Barros
- Melodia: Ezequiel da Rosa e Beto Barros
Melhor Música do Festival — opinião do público: Troféu Francisco Carlos Gomes Salazar
- O Sonho Moendeiro
- Letra: Mario Tressoldi e Chico Saga
- Melodia: Mario Tressoldi
Melhor Música Instrumental: Troféu Geraldo Flach
- Tema Para Pablo
- Autor: Lenin Nunes
Melhor Arranjo: Troféu Paulino Mathias
- Lugar Incomum - Felipe Goulart
Melhor Melodia: Troféu Demétrio Machado Ramos
- Mais Que o Próprio Céu - Matheus Alves
Melhor Instrumentista: Troféu Eliseu de Venuto
- Eduardo Morlin, em Lugar Incomum e Por Ser Lágrima Assim Sou
Melhor Intérprete: Troféu Penduca
- Filipe Coelho, em Mais Que o Próprio Céu
Melhor Letra: Troféu Jarcy Cândido dos Reis
- Ao Som do Rumpilé - Zé Renato Daudt
2ª Moendinha
Categoria Mirim
- 1º lugar: Vale Mazuí, interpretando Transbordar
- 2º lugar: Muriel Kirst, interpretando Milonga Abaixo de Mau Tempo
Categoria Juvenil
- 1º lugar: Marina Duarte, interpretando Artista
- 2º lugar: Anita Rodrigues, interpretando Decisão de Brasileiro